Foto: Andando nas nuvens, Alle Bleu - SA, Marie Jolie e Punky
DE VOLTA ÀS NUVENS
Acordo sedento numa pré manhã de quinta-feira, às duas da madrugada. O clima agradabilíssimo desenha um fim de noite a 14ºC. Tempo firme, sopra meu amigo vento na direção leste a 6 Km/h, umidade de 77%, sensação térmica de 11ºC. Vou beber dois copos de suco de pêssego e mais dois de água natural para matar a secura interior.
Ao redor, silêncio total cortado apenas por alguns grilos que cricrilam ali, acolá, além do tinnitus que teima em perturbar os meus ouvidos. Afasto as persianas e contemplo o céu aberto, salpicado de estrelas. Onde estão as nuvens? Nenhuma, sequer. Estratos pulverizados permeiam a frígida atmosfera. Pela porta do oitão, empacotado com o moletom, caminho pelo gramado jardim. Leste me envolve num gélido abraço e sussurra ao meu ouvido qual doce música de improviso:
_ E aí, Od? Vamos nessa?
_ Seria uma boa, mas cadê as nuvens?
_ E desde quando precisamos de nuvens para irmos a Onirópolis? Dreamland, redundantemente, é Ôniro, a terra dos sonhos. Lá é o reduto dos poetas, onde tudo é possível e onde o limite é a imaginação.
_ Me convenceu. Esquecia que você é o Mago das Nuvens. Num soprar jeitoso, os estratos se transformam em densos nimbos.
Não me faço de rogado. Monto no dorso de Leste e, num instante, adentramos o portal da Cidade dos Sonhos. Punky e Marie Jolie, aproveitam o embalo e sobem conosco, enroscadas na cauda do amigo eólico. Ando compassadamente pelas ruas de cristal. Noto que alguns sítios estão ocupados por novos moradores. Certamente são poetas que, por aqui, se estabeleceram desde o último festival de bonsais. Na Q1, Casa 15 e, numa placa de brilhante de gelo, “Vivenda dos Sonhos – Proprietária _ Ethiel Avlis”; logo mais adiante, entre a Q1 e Q2, um denso bosque, num arco escrito em relevo, “Bosque do Esconderelo”. Isso só pode ser coisa da Ethiel. Deve ser ali onde ela abriga o Cinderello.
Na Q2, Casa 5, uma mansão nublar de arquitetura inefável. Proprietária, MJC. MJC? Só pode ser ela! Com bastante disposição, Maria de Jesus poda suas avencas num estilo sui generis, à guisa musical. Parecem partituras. Num banco a uns vinte metros, seu Scalla, amigo inseparável. Logo, logo, teremos música de primeira a fluir pelo ar.
Por fim, chego à Q15, Casa 8, meu refúgio nas alturas. Alamedas bem tratadas, ladeadas por belos choupos nublares dão um toque clássico ao ambiente. Como se surfasse, desliso suavemente pelo caminho de gelo até a varanda. Armo minha rede tecida em finíssimo fio de nuvens do Ártico. Mergulho num mar de profunda calmaria. Passados alguns minutos, ouço um diálogo bastante interessante.
_ Você, Marie, sabe bem pra que veio! Não demorou muito, Cheiro e Cheirinho lhe adotaram. Espertinha, Heim!
_ Não foi bem assim, Punky. Fui abandonada na porta do Condomínio. Bati pernas por todas as ruas deste, sem encontrar alguém que se importasse comigo. Parecia um nada a vagar invisivelmente. Foi aí que encontrei esse casal a andar pelo bosque. Fiquei olhando pra ver se me viam. E não é que me viram! Abanei a cauda pra eles que me disseram: _ “Olá, Cofap!” _ Ah, se eles soubessem como esse nome me irrita!!! Mas tudo bem. O que importa é que me olharam e até interagiram comigo.
_ Parece coisa de cinema, Marjolie! Posso te chamar assim?
_ Sem problemas! Não deu outra. Comecei a segui-los, caminhando em círculos atrás deles, enquanto faziam sua caminhada. Eles paravam e olhavam. Eu também. Me dão um saquinho com ração. “Oba! Comida!” Mas não esperam que eu coma. Deixo tudo e corro atrás deles, até sua casa. Como deve ser, passo à frente do casal e lato com todos meus pulmões, para limpar a passagem pra eles. Nisso, eles entram e fecham o portão.
_ E depois? Pára de suspense!Depois disso, fiquei choramingando ao portão. Será que não veem que eu os escolhi pra serem meus donos? Pra minha alegria, eles retornam e me olham. Lancei o meu melhor olhar pidão. Fui irresistível! Abre-se o portão e eu, de cauda abanando, corro a lamber-lhes os pés e as mãos e, aproveito para dar uma profunda cheirada pra guardar seus odores.
_ Que espertinha! Pra uma salsicha, até que você é bem esperta!
_ E não sou? Mas, não foram eles … Eu os escolhi e os nomeei pra meus donos.
_ Mas nunca esqueça de que, quem manda aqui, sou eu! Ouviu bem?
_ Tudo bem, Tia Punky! Posso te chamar assim?
_ Pode, mas nada de bajulação. Detesto que me adulem!
_ Fechado! Olha lá o Cheiro procurando um vento pra descer! Parece que sentiu falta de Cheirinho...
_ Eita! Corre senão a gente fica. Vamos lá, Marjolie! Vamos nóooooooooooooooooooooooiiiiiiiissssss!!!!!!
E assim, enquanto nós vamos descendo, ainda posso ver Maria de Jesus pegar seu Scalla a executa lânguidos acordes ao tocar e cantar o clássico do maestro Jorge Galati (1904), SAUDADE DE MATÃO.
_ “Neste mundo eu choro a dor
por uma paixão sem fim
ninguém conhece a razão
porque vivo no mundo assim”…
Ao redor, silêncio total cortado apenas por alguns grilos que cricrilam ali, acolá, além do tinnitus que teima em perturbar os meus ouvidos. Afasto as persianas e contemplo o céu aberto, salpicado de estrelas. Onde estão as nuvens? Nenhuma, sequer. Estratos pulverizados permeiam a frígida atmosfera. Pela porta do oitão, empacotado com o moletom, caminho pelo gramado jardim. Leste me envolve num gélido abraço e sussurra ao meu ouvido qual doce música de improviso:
_ E aí, Od? Vamos nessa?
_ Seria uma boa, mas cadê as nuvens?
_ E desde quando precisamos de nuvens para irmos a Onirópolis? Dreamland, redundantemente, é Ôniro, a terra dos sonhos. Lá é o reduto dos poetas, onde tudo é possível e onde o limite é a imaginação.
_ Me convenceu. Esquecia que você é o Mago das Nuvens. Num soprar jeitoso, os estratos se transformam em densos nimbos.
Não me faço de rogado. Monto no dorso de Leste e, num instante, adentramos o portal da Cidade dos Sonhos. Punky e Marie Jolie, aproveitam o embalo e sobem conosco, enroscadas na cauda do amigo eólico. Ando compassadamente pelas ruas de cristal. Noto que alguns sítios estão ocupados por novos moradores. Certamente são poetas que, por aqui, se estabeleceram desde o último festival de bonsais. Na Q1, Casa 15 e, numa placa de brilhante de gelo, “Vivenda dos Sonhos – Proprietária _ Ethiel Avlis”; logo mais adiante, entre a Q1 e Q2, um denso bosque, num arco escrito em relevo, “Bosque do Esconderelo”. Isso só pode ser coisa da Ethiel. Deve ser ali onde ela abriga o Cinderello.
Na Q2, Casa 5, uma mansão nublar de arquitetura inefável. Proprietária, MJC. MJC? Só pode ser ela! Com bastante disposição, Maria de Jesus poda suas avencas num estilo sui generis, à guisa musical. Parecem partituras. Num banco a uns vinte metros, seu Scalla, amigo inseparável. Logo, logo, teremos música de primeira a fluir pelo ar.
Por fim, chego à Q15, Casa 8, meu refúgio nas alturas. Alamedas bem tratadas, ladeadas por belos choupos nublares dão um toque clássico ao ambiente. Como se surfasse, desliso suavemente pelo caminho de gelo até a varanda. Armo minha rede tecida em finíssimo fio de nuvens do Ártico. Mergulho num mar de profunda calmaria. Passados alguns minutos, ouço um diálogo bastante interessante.
_ Você, Marie, sabe bem pra que veio! Não demorou muito, Cheiro e Cheirinho lhe adotaram. Espertinha, Heim!
_ Não foi bem assim, Punky. Fui abandonada na porta do Condomínio. Bati pernas por todas as ruas deste, sem encontrar alguém que se importasse comigo. Parecia um nada a vagar invisivelmente. Foi aí que encontrei esse casal a andar pelo bosque. Fiquei olhando pra ver se me viam. E não é que me viram! Abanei a cauda pra eles que me disseram: _ “Olá, Cofap!” _ Ah, se eles soubessem como esse nome me irrita!!! Mas tudo bem. O que importa é que me olharam e até interagiram comigo.
_ Parece coisa de cinema, Marjolie! Posso te chamar assim?
_ Sem problemas! Não deu outra. Comecei a segui-los, caminhando em círculos atrás deles, enquanto faziam sua caminhada. Eles paravam e olhavam. Eu também. Me dão um saquinho com ração. “Oba! Comida!” Mas não esperam que eu coma. Deixo tudo e corro atrás deles, até sua casa. Como deve ser, passo à frente do casal e lato com todos meus pulmões, para limpar a passagem pra eles. Nisso, eles entram e fecham o portão.
_ E depois? Pára de suspense!Depois disso, fiquei choramingando ao portão. Será que não veem que eu os escolhi pra serem meus donos? Pra minha alegria, eles retornam e me olham. Lancei o meu melhor olhar pidão. Fui irresistível! Abre-se o portão e eu, de cauda abanando, corro a lamber-lhes os pés e as mãos e, aproveito para dar uma profunda cheirada pra guardar seus odores.
_ Que espertinha! Pra uma salsicha, até que você é bem esperta!
_ E não sou? Mas, não foram eles … Eu os escolhi e os nomeei pra meus donos.
_ Mas nunca esqueça de que, quem manda aqui, sou eu! Ouviu bem?
_ Tudo bem, Tia Punky! Posso te chamar assim?
_ Pode, mas nada de bajulação. Detesto que me adulem!
_ Fechado! Olha lá o Cheiro procurando um vento pra descer! Parece que sentiu falta de Cheirinho...
_ Eita! Corre senão a gente fica. Vamos lá, Marjolie! Vamos nóooooooooooooooooooooooiiiiiiiissssss!!!!!!
E assim, enquanto nós vamos descendo, ainda posso ver Maria de Jesus pegar seu Scalla a executa lânguidos acordes ao tocar e cantar o clássico do maestro Jorge Galati (1904), SAUDADE DE MATÃO.
_ “Neste mundo eu choro a dor
por uma paixão sem fim
ninguém conhece a razão
porque vivo no mundo assim”…
Ouvindo isto, lembro então, das palavras do SENHOR: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda. Isto vos mando: Que vos ameis uns aos outros.”
João 15:16,17
João 15:16,17