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A CASA COMO RIVAL
Contos nublares #086: 
(Reedição)

 
Hoje cedo, estava deitado em minha rede de Barbalha, Ceará, armada nos galhos de uma frondosa mangueira do nosso quintal.

Como sempre, viajava entre uma nuvem e outra, imaginando o que escrever. Algumas lembravam lembranças quais sementes a germinar incontáveis histórias. E eu ali, procurando ver aonde iriam dar.

Lá de baixo, acercando-se da curva da ladeira, rumores de discussão vinham num crescente, acompanhando um casal que não parava de vociferar. Não dava para entender porque gritavam simultaneamente. Simeão apressa o passo e chega ao nosso jardim com bastante dianteira e, de língua para fora, arfando, me pede, quase gritando:

_ Compadre Firmino, meu amigo! Vim pedir um favor! Pode me levar à Rodoviária Interestadual? Como vê minha mala, estou indo embora para Minaçu, ali, próximo à divisa de Goiás e Tocantins. Ufa!

_ Mas por que, Compadre Simeão! E vai também a comadre?

_ Sá Marina? É ruim, heim? Se é justo por causa dela que estou me mandando... Não! De jeito algum, não!

_ Mas o que houve para você de repente tomar uma decisão tão radical como essa? Vocês pareciam um casal tão unido! Não transparecia qualquer problema que culminasse nessa atitude de agora.

Nisto, Sá Marina entra aos prantos e vai ter-se com a Zelita,

_ Lá vai ela encher a paciência de Comadre Zelita!

_ Deixa! Vai fazer bem para ela! Mas conta aí! O que está acontecendo?

_ A bem da verdade, não é acontecendo, coisa de agora, não. Isso se vem arrastando desde os primeiros meses de casados. No princípio era um mar de rosa! O céu na terra e a terra no céu! Pense o quanto nos sentimos felizes e realizados!

_ E o que tem mudado? Vocês me pareciam tão bem!

_ Homem, vá me escutando e vai entender! Então, vieram os filhos, e eu fui sendo deixado de lado. Na prioridade fiquei na rabada. Tempo pra casa, tempo pros filhos, tempos para a cozinha e pra mim, nada! Até na hora do bem bom, sempre dizia: _ “Hoje não! Estou muito indisposta, exausta! Amanhã, quem sabe?” E, até hoje, não tem mais tempo.

_ Conversa, Compadre! Quer dizer que o gatinho está morrendo à míngua?

_ É por aí! Tem dia que eu subo pelas paredes! Tomei ódio mortal por nossa casa, que com tanto sacrifício comprei. Já que isso é tão mais importante para ela do que eu, então resolvi dar um basta nisso e tomar o meu rumo. Aliás, estou indo sem rumo e sem direção. Que ela fique com sua querida, amada e idolatrada casa!

_ Que louco, Compadre! Nessa idade, sessentão! Onde pretende ir? É melhor buscar uma solução sem ter que sair de casa.

_ Tem jeito não, Compadre Firmino! Já resolvi e está decidido! Onde já se viu, me trocar pela casa? Se isto é tão importante, que fique com ela e tenha bom proveito! “Tô” fora! Olha amigo! Quando eu casei foi para ter uma esposa para amar, ser feliz com ela e envelhecer ao lado dela. De quebra, teríamos uma casa para abrigar nosso lar sob seu teto. Daí teríamos filhos, netos e por aí vai. Não casei para ter uma casa competindo comigo. Cansei!

_ E você já conversou com ela sobre?

_ Perdi as contas, amigo!

_ Olha, Simeão! Mulher é assim mesmo. Os valores delas são diferentes dos nossos. Além do mais, você bem que poderia contratar uma diarista para aliviar a pobre comadre!

_ Chi! É ruim! Ela não quer! Diz que é um desperdício e tal, mas acho que é ciúme e TOC. Já tentei várias vezes. Ela diz que prefere fazer tudo sozinha. Em compensação eu sou a sobra do resto. Não dá!

_ Dê uma chance a si de reverter essa situação! Zelita, neste momento, está conversando com Comadre Sá Marina e, certamente, dando-lhe conselhos para vocês se reatarem. Quer tentar?

_ É! Pode ser. Mas vou logo dizendo! Se a casa voltar ao primeiro lugar, eu vou embora para nunca mais voltar e ninguém saberá onde estarei. Certo?

_ Certíssimo, amigo!_ Olhando para dentro de casa, _ “Susana! Venha aqui com a Comadre! Precisamos fazer um confronto e acordo!

_ Certo, Firmino! Estamos prontas!

Depois de muita conversa, acusação, defesa e tal, os dois se entendem e nos prometem que farão tudo o que estiver ao seu alcance para investir em seu casamento. Sempre que algo não fosse bem, parariam tudo e discutiriam sua relação em busca de efetiva solução. Oramos juntos e os abençoamos. Os dois, de braços dados, voltam alegres para o lar, dispostos a reconstruírem o seu ninho.

E nós, aproveitamos a deixa e rediscutimos nossa relação para que ficasse daqui para melhor!

“Se Deus não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam” (Salmos 127:1).
Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 30/05/2015
Reeditado em 30/05/2015
Código do texto: T5260560
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