De grão em grão [94]

BOLO DE FESTA

Augusto gosta muito de bolos. Só que não é de qualquer bolo que ele gosta. Ou seja, Augusto gosta muito dos bolos que ele gosta. E quando vai a um aniversário ou festa em que come um bolo que lhe agrada, sempre pergunta onde foi comprado.

Então, na semana seguinte, vai à mesma confeitaria ou supermercado à procura de um bolo igual. Já vai pensando em se deliciar com um bolo todinho para si. E matar toda a sua vontade da iguaria tão específica.

Muitas vezes, não encontra o mesmo bolo. Até tenta comprar outro, mas fica com o que procurava na cabeça. Em outras, sim, encontra! E fica feliz! Vai correndo pra casa para devorar um farto pedaço. Só para descobrir que não é exatamente o mesmo... Ou até parece que é, mas não está tão gostoso...

E continua desapontado. Com uma vontade incessante do bolo da festa.

Esses dias, a estória se repetiu: foi a um evento, gostou do bolo, perguntou, foi ao supermercado, encontrou um igual, comprou e comeu. Eu presenciei e até participei do ato da devoração. Mas a cara do Augusto não parecia a mais feliz do mundo.

Perguntei: “E aí, é o mesmo bolo?”

E a resposta foi habitual: “É. Mas parece que lá estava mais gostoso.”

Continuei: “E lá você comeu quantos pedaços?”

Augusto: “Só um. Tinha muita gente para dividir o bolo.”

E ele mesmo decifrou o enigma: “Talvez seja por isso que lá estava mais gostoso. Em casa, com um bolo todinho para mim, não dá tanta vontade...”

Assim são muitas situações da vida.

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 27/05/2015
Código do texto: T5256691
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