Apresentação do livro Sinais de Mim
Elzana Mattos - Chiado Editora

 
Em Sinais de Mim, Elzana Mattos trabalha a escritura fragmentária, própria da Pós-modernidade, mediante caminhos bastante adequados, para verter em palavras a busca do próprio ser. Este, corporifica-se na complexidade de um eu múltiplo e dividido que representa as facetas recônditas da persona, neste caso, uma mulher que perscruta o seu próprio interior: “Fui muitas mulheres em uma só”, confessa a autora-personagem.
Ao eu polifacético, corresponde uma expressão literária rica, que embora se articule como prosa, em muitos momentos recria os elementos narrativos, especialmente ao se referir – imbuída de profundo lirismo –, aos encontros e atos da infância. As várias seções do livro constituem extensos poemas em prosa – na esteira de Baudelaire –, porem com o matiz da escritura intimista levada a cabo por mulheres, numa tradição que vai de Virginia Woolf à Clarice Lispector. Em seu conteúdo textual coexistem fragmentos que assumem traços de verso, em ritmos anafóricos, a reforçarem teores essenciais que recriam o fluxo do pensamento, incluindo-se também a rima, exercendo assim, função por vezes distanciadora e irônica. O estilo oferece a riqueza da diversidade, capaz de vincular com harmonia o ludismo – leia-se o poema do Prólogo, numa sucessão de palavras iniciadas pela letra “E”, à maneira dos jogos de Cortázar –, as imagens oníricas, próprias da literatura visionária; o vocabulário técnico em séries irônicas e o realismo das recordações de vivências e de lugares concretos como na “Estância de Santa Maria, pros lados da Fazenda Santa Luzia, próxima à região rio-grandense de Porteirinha”. Neste sentido, resulta em acertada aproximação da infância ao tempo presente Contribuem para criar uma sensação de realidade, as contínuas referências ao ato de ir compondo o livro: o café, o cigarro, o som das teclas da máquina. A partir daí, voam as reflexões metaliterárias, conforme se aprecia, especialmente na seção “O espelho das palavras e dos sinais”. 
Um leit-motiv (fio condutor) propicia unidade ao livro: o olhar da mulher diante do espelho, que se converte em metáfora da introspecção e do mergulho na historia pessoal e nos passeios da memória. Este último aspecto, trabalhado em conjunto ao traço autobiográfico, diferencia a criação de Elzana Mattos no uso desta temática da tradição literária, atestada em personagens femininos do talhe de Anna Karenina, de Tolstoi; Luisa, de Eça de Queirós e as figuras de Machado de Assis, para citar alguns exemplos. Página após página, Elzana aborda a escritura intimista em uma obra com unidade; contrapondo com um “eu” desagregado, porem dinâmico e com vontade de se conhecer e se construir.
O espelho se projeta como símbolo que ilumina o processo de submersão no âmago do espírito. Assume diferentes formas, desde o vidro molhado de chuva, até o rio da vida que passa. Desvela máscaras e, como arma psicanalítica, é uma terapia para conjurar fantasmas interiores, porém também é fonte de momentos jubilosos, porque nada é totalmente branco ou totalmente negro, nem verdade, ou mentira; nem ficção, ou realidade e Elzana Mattos, o sabe.

Cáceres-Espanha, 05 de fevereiro de 2014.

Apresentação de María Isabel López Martínez – Doutora em Teoria
de la Literatura y Literatura Comparada – Vicerrectora
de la Universidad de Extremadura - Espanha
Elzana Mattos
Enviado por Elzana Mattos em 21/05/2015
Reeditado em 21/05/2015
Código do texto: T5249741
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