Conto Reflexivo: TRISTE RETRATO FALADO DE UM HOSPÍCIO

Por favor, não riam! Isto não é um texto humorístico.

(Nomes fictícios para preservar a integridade desta família)

Um certo amigo, alcoólatra inveterado, há alguns anos não sorvia sequer um pingo de bebida alcoólica. E não podia ao menos tragar uma só gota, pois era o suficiente para ele beber, berber até ficar inconsciente. Vamos aqui chamá-lo de Miguel.

Miguel sóbrio, é uma pessoa tratável, honesta e cumpridora de seus compromissos. Não é que, não sei porque cargas d'água ele arriscou só um golinho.

_ Pronto! Eu me controlo. Sou capaz de me conduzir, sem qualquer tutela sobre mim. Já estou curado e me garanto! _ Disse ele, antes de virar o primeiro trago.

_ Não faça isso, Miguel! _ dizem em seus amigos que bem o conhecem. _ Você não vai dar conta...

_ Colé, meu! Eu sei de mim! _ diz isto já meio grogue e alterado.

Não bastaram os apelos dos amigos, ele bebeu até ficar inconsciente. Chamados os familiares, estes o levam para casa. Quando Miguel acorda, todo cheio de razão, pega um facão e começa golpear o ar, como se estivesse ferindo alguém. Rogers, seu caçula, num descuido do pai, o desama e o imobiliza. Os demais filhos, Ana, Zefinha e Orlando amarram-lhe as pernas e e os braços para trás e o levam ao Hospício Municipal. Ali Miguel é sedado e passa longo tempo em síncope de vigília, de olhos fitos no nada, como se apenas vegetasse.

Sete dias depois, já sóbrio e cônscio do que tinha feito, se lamenta e pede pra voltar pra casa, que nunca mais cairia no erro novamente. _ Prometo! Palavra de Miguel! _ Dizia ele, convicto que cumpriria o prometido. Os filhos que o internaram não conseguiram removê-lo dali. Mas (sempre tem um mas), se conseguissem chamar uma autoridade ou algo parecido, poderiam, em consideração a essa autoridade, mediante sua responsabilidade, poderia liberar o pai daquela casa de repouso mental.

Foi então que o Rogers, se lembrou de mim e suplicou-me para que fosse interceder pelo pai para que o soltassem. Como Pastor e Capelão, posso entrar em hospitais e todos os tidos de unidades de reclusão para prestar atendimento de Capelania.

Dirigi-me com ao médico de plantão que prontamente me atendeu o pedido e libera-nos para que entremos no pátio onde os loucos estão para tomar banho de sol e se socializarem dentro do seu imaginário.

Enquanto converso com o Miguel e o aconselho, chega um interno e me fala: _ Olá, meu filho! Vim para te abençoar e te desejar paz e felicidade, ao mesmo tempo impondo as mãos sobre minha cabeça para impetrar-me a bênção. Educadamente, afasto suas mãos de minha cabeça e o saúdo:

_ Bom dia! Quem é mesmo o Senhor?

_ Bem o dizes, meu servo! Eu sou Jesus, o Filho do Deus Vivo!

_ Sério? E como tem assim tanta certeza?

_ Meu Pai, que está nos Céus mo disse. _ Responde meu interlocutor, justamente enquanto passa por perto outro paciente de nome Bartô e o replica.

_ Quem, eu? Eu te disse? Não lembro de tê-lo dito! _ Logo se avizinha mais um paciente mental.

_ Calma, calma! Eu explico! Fui eu, o espírito santo de Deus quem to disse, meu filho.

Saem a trindade maluca dali e ficam confabulando, tratando coisas do céu e de seus pretenso reino e súditos.

Enquanto aguardo a alta do Miguel, fico a imaginar porque aquele surto e tão alta pretensão. Descubro que ali há vários crentes, alguns até me conhecem. _ “Por que será que tantos religiosos vão parar ali, numa Casa de Saúde Mental?” _ Penso com meus botões. Conversando com e outro, descubro que eram crentes muito fanáticos, caçadores de promessa e que viviam a encucar palavras de fé pessoal do tipo “o crente tem saúde divina. Por isso nunca adoece”. “Se alguém adoece é porque está em pecado”. E outro absurdo, certa prática de desejar, visualizar, mentalizar, em triplas mantras repetir o que se deseja que aquilo certamente se materializaria. Colocar palavras de promessa “na boca de Deus” quando aquilo não passava de fruto de sua imaginação ou palavras embebidas em neurolinguística proferida por eloquentes pregadores que empolgam multidões e vão para outras paragens fazer o mesmo. Depois o Pastor local que administre o estrago feito nas emoções de seus seguidores. Quando não veem suas pseudopromessas se cumprirem se decepcionam com o Supremo Ser, caem em profunda depressão e muitos desses terminam num hospício. É o que constato naquele Sanatório Mental.

De alta, meu amigo volta ao convívio do seu lar enquanto volto ao meu escritório ainda chocado com o que vira ali. Como formadores de opinião e discipuladores, jamais podemos perverter o Santo Evangelho que é tão simples que uma criança e até um louco consegue entender e muitas vezes confunde os ditos intelectuais. Não podemos nem dificultar nem facilitar a Senda do Calvário, o Santo Caminho que nos dá Vida e nos conduz ao Pai – JESUS. Não podemos prometer o que Deus não promete nem criar atalhos para a condução do prosélito à nossa igreja, método que confunde o neófito o desvia do verdadeiro Caminho da Salvação. Muitos focam sempre o Futuro ou Passado e se esquecem que entre estes há o hoje que devemos viver. Aliás viver em abundância de vida. É simples seguir puramente o Evangelho, as Boas Novas de Deus. Por que então fantasiar e afastar o fiel do Caminho que lhe conduzirá À vida eterna?

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 17/03/2015
Reeditado em 17/03/2015
Código do texto: T5173197
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