Fazendo as malas
Não quero mais fazer as malas. - pensei.
Nunca tem espaço suficiente e sempre tenho que deixar um pedaço de mim largado em casas e apartamentos que nunca mais vou visitar.
Não quero mais subir em aviões, olhando para trás e me lamentando.
Sempre cheio de dúvidas. Cheio de saudades.
Meu cansaço é crônico. Já faz parte de mim. Já faz parte da rotina e da vida que eu escolhi viver... Assim como arrependimentos e crises existenciais.
Acredito que devo estar me tornando uma pessoa irritante e sem paixão.
Sem achar graça em nada. Quase blasé. -
Olhei para o armário cheio de coisas que precisava embalar ou jogar fora.
A mala no chão, esperando o momento de ser fechada. Roupas que tinha que dobrar e arranjar de alguma forma dentro dela.
Queria tocar fogo em tudo, subir num ônibus e procurar alguma praia deserta em qualquer lugar do país, sentar na areia e esperar o tempo me consumir.
Pensei em dar descarga em meu celular, dar meu computador a um mendigo e quebrar meu cartão do banco.
Pensei até em sair andando em meio à chuva, desafiando o temporal que desabava e ver se era atingido por um raio.
Calculei mentalmente as possibilidades disso acontecer e voltei a olhar para a mala.
Parecia mais fácil o raio me atingir do que eu conseguir guardar tudo queria dentro dela.
- Numa hora destas é que realmente me faz falta uma mulher... – Eu disse para mim mesmo.
Mas qual delas... qual das 3,5 bilhões de mulheres do mundo iria querer a companhia do cara insuportável que eu tinha me tornado?
A idéia de ser atingido por aquele raio ia ficando cada vez mais atraente e eu cada vez menos interessado na arrumação de minhas coisas...