Fazendo as malas

Não quero mais fazer as malas. - pensei.

Nunca tem espaço suficiente e sempre tenho que deixar um pedaço de mim largado em casas e apartamentos que nunca mais vou visitar.

Não quero mais subir em aviões, olhando para trás e me lamentando.

Sempre cheio de dúvidas. Cheio de saudades.

Meu cansaço é crônico. Já faz parte de mim. Já faz parte da rotina e da vida que eu escolhi viver... Assim como arrependimentos e crises existenciais.

Acredito que devo estar me tornando uma pessoa irritante e sem paixão.

Sem achar graça em nada. Quase blasé. -

Olhei para o armário cheio de coisas que precisava embalar ou jogar fora.

A mala no chão, esperando o momento de ser fechada. Roupas que tinha que dobrar e arranjar de alguma forma dentro dela.

Queria tocar fogo em tudo, subir num ônibus e procurar alguma praia deserta em qualquer lugar do país, sentar na areia e esperar o tempo me consumir.

Pensei em dar descarga em meu celular, dar meu computador a um mendigo e quebrar meu cartão do banco.

Pensei até em sair andando em meio à chuva, desafiando o temporal que desabava e ver se era atingido por um raio.

Calculei mentalmente as possibilidades disso acontecer e voltei a olhar para a mala.

Parecia mais fácil o raio me atingir do que eu conseguir guardar tudo queria dentro dela.

- Numa hora destas é que realmente me faz falta uma mulher... – Eu disse para mim mesmo.

Mas qual delas... qual das 3,5 bilhões de mulheres do mundo iria querer a companhia do cara insuportável que eu tinha me tornado?

A idéia de ser atingido por aquele raio ia ficando cada vez mais atraente e eu cada vez menos interessado na arrumação de minhas coisas...

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 10/03/2015
Código do texto: T5165575
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