De grão em grão [88]
GENTE FALANTE
Retomando o tema do grão anterior, as pessoas caladas vivem no mundo da dedução, enquanto nos falantes prevalece a experimentação.
Os falantes falam sem pensar ou falam para pensar, para testar, até para “ver”. Falam e veem o que acontece. Só então reagem, continuando a falar.
Diferentemente dos calados, que deduzem, os falantes têm uma necessidade incontida de confirmar seus pensamentos. Por menores que sejam. Perguntam mais de uma vez a mesma coisa. Reafirmam, repetem, cansam.
E falam e desfalam logo em seguida, se for preciso ou não. É como se falassem a lápis e pudessem apagar a qualquer momento. Justamente por isso, não têm muito critério ou cuidado, falam a torto e a direito, por saberem que podem mudar depois. Falam mais rápido do que pensam.
Já os calados falam a tinta. E sabem que se tentarem apagar, ficará a rasura.
O ideal seria falar comedidamente, de acordo com a ocasião e a plateia. Nem exageradamente a tornar-se inconveniente e insuportável, nem calar-se demais de forma antissocial.