De grão em grão [87]

GENTE CALADA

As pessoas caladas são caladas porque vivem indispostas com o mundo. Pois não é possível que concordem com tudo que ouvem. E se ouvem, discordam e permanecem caladas é porque não têm o ânimo suficiente para apresentarem suas visões diferentes. Não querem se embrenhar em discussões.

Mesmo quando concordam, poderiam manifestar o seu apoio, posicionarem-se. Porém, preferem fazer isso do seu direito de permanecerem em silêncio, dando margem às pessoas outras pensarem o que quiserem.

E quando indagadas diretamente, limitam-se a esboçarem uma expressão facial ou balbuciarem algum monossílabo. Por vezes, indecifráveis. Há quem não expresse absolutamente nada, mesmo quando lhes perguntado incisivamente. Não se sentem na obrigação de responder a tudo.

Essas pessoas não querem correr o risco de desperdiçarem saliva, nem fornecer mais elementos para que sejam julgadas.

A vantagem é que não expõem desnecessariamente, não falam o que não devem, não erram por se expressarem mal e não se desgastam à toa pelo que falaram ou ouviram. Não fazem questão de serem compreendidos ou aceitos.

Por outro lado, vivem num mundo de deduções, confinados àquilo que perceberam das diversas situações. Porque podemos compreender mal ou ter uma percepção distorcida, necessitando fortemente da comunicação para o esclarecimento ou confirmação, para que a mensagem correta chegue ao receptor.

As pessoas caladas nunca confirmam o que ouviram. São convictas da sua opinião e da visão (particular) que têm do mundo.