LITERATURA EM TEMPOS DE LIBERTAÇÃO

Luciana Carrero*

Temos que considerar a comunicação imediata, que nos é possivel com as ferramentas e/ou aplicativos, que produz e é um bate-volta instantâneo nas relações humanas, das quais a literatura é só uma delas. A política, a sociedade, as ciências e as artes se exercem dentro de um ambiente de pronta interação. A situação é incomparável com quaisquer outras realidades anteriores e muito se espera de um porvir que a cada dia mais nos supreende. E quanto à reciprocidade e complementação de ideias, a partir de escritores e leitores, apresentam esta rapidez peculiar, amadurecendo frutos do relacionamento humano com maior brevidade. Os escritos de Goethe demoraram a chegar aos menos favorecidos, em tempos que as letras eram para intelectuais nobres e doutores. Hoje a literatura se democratiza e uma plêiade de novos comunicadores surge. As ideias se fundem, não tão híbrida e demoradamente como dantes, mas dentro de um ambiente crescente e organicamente. A imagem atingiu mais pessoas do que a literatura, através do cinema, embalando multidões nos pastelões de "O Gordo e o Magro" e nas tragicômicas visões de Chaplim. Aí ve-se o poder da imagem, que avançou à frente da literatura, inclusive com o advento da tevê, que sucedeu à voz do rádio. Os anos de chumbo amordaçaram escritores e leitores, no Brasil. Um mundo novo está a descortinar-se através da integração de objetivos das artes unidas. A nossa atuação como escritores, além de filosofar, criar, escrever, poetizar e profetizar, tem um caminho novo que anda na descoberta de novos rumos da tecnologia, a fim de ser utilizada como ferramenta na expansão do que escrevemos. Em segundos, abrem-se as janelas da literatura para leitores nos mais recônditos cantos do Planeta. O e-book e os livros sob demanda são a libertação dos escritores, que lançam auto-edições a partir de agora. Não mais dependemos da ditadura de editores. Precisamos nos voltar para o Marketing pessoal e corporativo, porque a profusão de textos que emergem na Rede é fantástica e corremos o risco de estar escondidos para o mundo em meio à bruma da nuvem internáutica que nivela as artes por baixo. Mas também pode ser considerada a palavra antônima "imergir", com o sentido de mergulhar, que é o melhor a fazer. Ir aos mares fundos das artes e trazer dele novas descobertas. Hoje tudo cansa, da noite para o dia. Até cansamos de nós mesmos e precisamos matar um leão por dia para conseguir renovar os pensamentos; atingir a um público cada vez mais bem informado e exigente. O mundo está sedento de novidades e revelações. É preciso que nos superemos a cada segundo. Os usuários do smartphone são um desafio a ser considerado. Jornalistas saltam dos jornais para a Rede e isto é preciso. - onde lá os esperam internautas despreparados considerando-se jornalistas - em grande parte diamantes brutos, e em grande maioria querem absorver nossa experiência – ocupar o lugar a que chegamos em demoradas gerações. Estes virão mais rapidamente ainda e tomarão as artes, através do desenvolvimento da inteligência secular e da ação que o planeta nos apresenta, num imediatismo crescente. Blogueiros se sentem escritores, sem o aparato do conhecimento e da sabedoria literária que sempre foi exigida de todos nós. Estamos aqui, como alicerces ou seremos paredes derrubadas, num clima onde nada se cria, tudo se copia? Esta é a questão que me instiga. Espero ter colaborado de modo positivo.

* Escritora e produtora cultural, registro 3523 – LIC/SEDAC/RS