Pássaro ou Rei, de nada

Sem hipocrisia

Quando morrer, eu quero, exijo um coro de choro, bem longo e miúdo. Mas não me leve a mal, não é que eu queira que sofram sem mim. É que creio eu, que o choro seja natural da perda, é sentimento como o de fruta espremida. Se aperta o peito, então as lágrimas rolam.

Jamais disse que tem de ser feio, pelo contrário, o choro é pela falta que a memória do que foi bom traz, é a saudade imediata e sabidamente incurável, apenas aliviada pelo tempo. Quero choros ininterruptos acompanhados de chorinho e muito canto. Cantos de olhares com pequenos sorrisos dolentes. Quero tristeza apenas pela lembrança da felicidade. Não quero revolta e nem desespero. Não há coisa mais humilhante para um cadáver, do que ter sua última festa violada desta forma.. Independente da causa do óbito, consumado está, e nem o passarinho ou rei que alguns acham que me tornarei numa próxima vida vai mudar isso. Então, que me saúdem os meus, e que bebam vinhos salgados enquanto dizem: Lá se foi nosso companheiro, melhor não houve, e que falta fará

Adeus!

Sensus
Enviado por Sensus em 24/02/2015
Reeditado em 24/02/2015
Código do texto: T5148064
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