Um sonho quase real
À M.
Ela tinha os olhos mais tristes que eu já vi.
tinha as unhas roídas de ansiedade e o rosto marcado pela maquiagem borrada.
Usava um vestido amarelo estampado que lhe ia até a abaixo dos joelhos.
Tinha os pés descalços e algumas cicatrizes antigas nas pernas.
Apesar de ter menos de vinte anos, carregava mágoas centenárias.
trazia consigo amores que vivera e que sonhara,
versos que escrevera e passagens decoradas de livros, que sempre repetia.
Ela me escrevia cartas de amor e contos fantásticos sobre nós dois.
Conversava comigo madrugadas à dentro,
me mandava músicas e me recitava poemas ao celular.
Fazia planos que dificilmente poderiamos realizar,
mas ainda assim, dava a eles um toque de real e nunca pude questioná-los.
Até aquele momento.
Ela veio até mim com passos lentos, parou imediatamente a minha frente, sem me tocar.
Levou a mão até os lábios, derramou uma lágrima, virou de costas e se distanciou, até que não pude mais vê-la.
Tentei chamar seu nome, mas nenhum som saiu de minha boca.
Tentei escrever-lhe, mas as palavras me foram negadas.
Tentei lhe procurar, mas no fundo eu sabia que ela estava nos braços de outro.
Guardei as cartas, os poemas e as frases decoradas de livros.
Ouvi as músicas que me mandava,
repetidamente até quase enlouquecer,
e perceber que tudo aquilo não tinha passado de um sonho,
quase real.
"oh... that was so real"