Um sonho quase real

À M.

Ela tinha os olhos mais tristes que eu já vi.

tinha as unhas roídas de ansiedade e o rosto marcado pela maquiagem borrada.

Usava um vestido amarelo estampado que lhe ia até a abaixo dos joelhos.

Tinha os pés descalços e algumas cicatrizes antigas nas pernas.

Apesar de ter menos de vinte anos, carregava mágoas centenárias.

trazia consigo amores que vivera e que sonhara,

versos que escrevera e passagens decoradas de livros, que sempre repetia.

Ela me escrevia cartas de amor e contos fantásticos sobre nós dois.

Conversava comigo madrugadas à dentro,

me mandava músicas e me recitava poemas ao celular.

Fazia planos que dificilmente poderiamos realizar,

mas ainda assim, dava a eles um toque de real e nunca pude questioná-los.

Até aquele momento.

Ela veio até mim com passos lentos, parou imediatamente a minha frente, sem me tocar.

Levou a mão até os lábios, derramou uma lágrima, virou de costas e se distanciou, até que não pude mais vê-la.

Tentei chamar seu nome, mas nenhum som saiu de minha boca.

Tentei escrever-lhe, mas as palavras me foram negadas.

Tentei lhe procurar, mas no fundo eu sabia que ela estava nos braços de outro.

Guardei as cartas, os poemas e as frases decoradas de livros.

Ouvi as músicas que me mandava,

repetidamente até quase enlouquecer,

e perceber que tudo aquilo não tinha passado de um sonho,

quase real.

"oh... that was so real"

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 05/02/2015
Código do texto: T5126673
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.