Diálogos sobre "Poesia e Imagem"
Darcila Rodrigues: Diálogos sobre Poema e Imagem Na Internet e A poética Nos Mecanismos da Memória de Joaquim Moncks. Organizados por Luciana Carrero.
Eliane Mary Fraga Morales: Então o poema deve ser etéreo, quase invisível aos sentidos, tendo a capacidade de penetrar diretamente no inconsciente. Interessante. Descartes concordaria...
Joaquim Moncks: Querida, inteligente e dedicada leitora Eliane Mary Fraga Morales! O teu entendimento me parece ir além do que pretendi relatar no tutorial acima. O processo que sinto se perfectibilizar no leitor/receptor é o inverso do que ocorre na cuca do autor do poema, em que prevalece o fluxo emocional do inconsciente (a inspiração), acatando os mecanismos da memória trazidos a lume na construção freudiana. No poeta-leitor, a racionalidade prevalece desde o ato de leitura, graças ao mecanismo intelectivo. O "estranhamento" produzido no leitor, devido à codificação da peça poética através das figuras de linguagem (especialmente as metáforas) quando em presença do POEMA COM POESIA, vai exigir dele, mais e mais, a utilização do processo cognitivo. No entanto, a arte poética vai ocupar paulatinamente os mecanismos da memória, podendo seus filamentos chegar ao inconsciente, onde é possível se dar a sua fixação nos domínios do Mistério (o único que inscreve a Poiesis), para a propagação do poema como fetiche, farsa ou verdade (acatada, tida ou havida), permanecendo sempre no mundo da farsa ou fantasia, nunca no mundo dos fatos, pois não é esta a sua destinação. Sua aplicação nunca será direta à realidade. A rigor, não consigo ver os postulados cartesianos nesta elaboração. Seguem os abraços e a gratidão do poetinha JM.
Eliane Mary Fraga Morales: Joaquim Moncks, citei Descartes quando ele postula o Cogito ergo sum. Imaginei o poema invadindo diretamente o pensamento, sem passar pela peneira enganosa da capacidade limitada de nossos sentidos. Mas gostei do que postaste, foi elucidativo. Obrigada poetinha.
Joaquim Moncks: Marilu Duarte, querida poetamiga, dá uma olhadela no que a Eliane Mary Fraga Morales colocou na primeira interlocução. Como entendes bem melhor o pensamento de Sigmund Freud, creio que a tua participação poderia trazer luzes ao tema. Peço dês a tua palavra sobre o meu posicionamento, porque em mim o forte não é a Psicologia e os mecanismos da memória, os quais devemos o primeiro apontar à genialidade freudiana. Abraços do poetinha JM.
Darcila Rodrigues: Querido poetinha e amigos poetas, acredito que a imagem sempre irá prevalecer diante da palavra. Muitas vezes tentei ler um poema e não consegui porque fiquei envolvida com a imagem. Ou então, a beleza da música me dispersou. São artes autônomas. Pensando em formato estético: música, imagem e obra literária na grande maioria dos casos não se complementam, e sim, excedem. É como aquela dica em moda: Menos é mais. Há que se ter cuidado no abuso destes recursos, afinal, em se tratando de internet o que o autor espera do leitor? Curtidas ou leituras? Parece-me que há uma predileção da maioria pelas curtidas ( querem ser vistas, serem celebridades instantâneas). Eu prefiro que leiam interpretem, critiquem e façam com que a Poesia cresça e seja protagonista sempre. Obrigada a todos pelas elucidações. Bravo!
Oneida Maria Di Domenico: Joaquim Moncks, se me permitir não vou comentar o texto ora proposto. Somente sugiro ouvir o vídeo de Osvaldo Montenegro, com fundo musical, recitando um poema - "Metade", para mostrar que é verdade que a música cria um clima artístico que dá mais vida a um poema. Pois nunca assistí tão bela interpretação, tão belo poema e com tão bela melodia. P.S. É só uma sugestão, que vem a corroborar com parte de sua análise sobre o aporte musical. Mais uma vez muito obrigada poetinha JM.
Luciana Carrero: Já que Eliane Mary Fraga Morales mencionou o famoso “Cogito ergo sum” (Penso, logo existo!) que faz do pensamento o princípio da existência; e desde que Poesia é pensamento, esta começaria com a existência e findaria com a morte. Neste caso o poema não é etéreo, invisível e, sim, fático, humano. Não gosto de trazer à baila os que já se foram, para justificar aspectos do meu mundo, que nasceu comigo e comigo morrerá. Há muito que pensar pela frente, na minha individualidade. E quero parabenizar Darcila Rodrigues, que chega, oportuna, enunciando sobre o protagonismo da poesia; endossando pensares aqui cogitados por mim e pelo acadêmico Joaquim Moncks, originalmente. Mas já estou me intrometendo, porque a palavra estava aberta para Marilu Duarte lecionar em relação aos assuntos abordados, mais uma vez à luz de Freud, a pedido do propositor de "Poema e Imagem na Internet", desta feita para explicar um pensamento dito Cartesiano, pela primeira interlocutora; e um tema que envolve Internet. Inevitavelmente, vem-me o pensamento: será que a genialidade de Freud deixou subsídios para explicar o mundo atual? Um mundo tão diferente do seu? Espero ter colaborado. Abraços poetas amigos. Boa noite a todos. (continuo preocupada com a patologização das artes, que é para onde poderão levar-nos os conceitos freudianos.)