Preciso de muito pouco
Eu não preciso de muito.
Creio que posso ser relativamente feliz,
com muito pouco.
Realmente.
Um apartamento claustrofóbico,
com dois ou três móveis. Uma planta seca numa mesa de centro.
Cerveja na geladeira,
e alguma comida seriam suficientes.
Não faço questão de conforto,
mas de algum espaço para minhas particularidades.
Espaço para exercitar minha solidão.
Eu nunca vou me encaixar onde as pessoas acham que eu devo estar.
Não existe um lugar esperando por mim no meio da normalidade.
Não existe aquela casa, com uma esposa e alguns filhos,
talvez um cachorro no quintal.
Não existe aquela felicidade enlatada que se vende na televisão.
Não existe o carro do ano na garagem,
o bom emprego,
a aposentadoria e viagens para outros países.
Nada disso existe.
O que existe são parentes que me olham torto e me criticam,
pelo meu confinamento,
por minhas escolhas.
Mulheres que mergulham em minha vida
tiram coisas do lugar e vão embora.
Talvez com medo.
Amigos que sentem pena.
"Ele tem tanto potencial, porque vive desse jeito?"
Existem os conhecidos, companheiros de bar,
atormentados
e com tantas histórias de noites de embriaguez
quanto eu.
Há também a angústia
meus cadernos e livros surrados
minha a poesia,
e uma dor pura e simples,
sem explicação,
e uma eterna sensação de incompletude...
Estranhamente nada disso significa infelicidade para mim.
Existe paz na aceitação
das coisas como elas são,
e no silêncio de um quarto vazio.