ESTRANHA GERAÇÃO

Não consigo entender certas coisas! Por exemplo, por que nos distanciamos estando tão próximos um dos outros? Por que buscamos apressadamente as informações diversas, se do evento principal, somos os principais personagens? Pois é... cedo, bem cedo, no cainho da padaria, quis dar um bom dia pro vizinho, mas ele de cabeça baixa, esquivou-se do cumprimento, foi apenas o começo de uma sexta feira que prometia ser de labuta.

No trabalho, as formalidades tomaram conta do resto do dia e não sabíamos se: somos assim, ou se nos tornamos assim... intolerantes.

Cansado e meio sem graça, refaço o caminho de volta pra casa, na expectativa da festa que vinha sendo desenhada desde o início da semana. Havia me preparado para ela, pois não era uma festa qualquer, era a celebração dos quinze anos de uma das minhas afilhadas.

A noite estava linda, o ambiente era o mais prazeroso possível, a decoração... impecável, as pessoas sorrindo e felizes conversavam. Aquilo me alegrou até o momento em que a boate deu o tom da graça. E foi aí que não entendi nada. Puxa vida! Não era pra satisfação daqueles jovens, o som alto, as luzes dançantes? Não era um convite para soltar o corpo e liberar as tensões? Dei uma espiada e pra meu espanto, só as luzes dançavam, não havia a graciosidade dos corpos no ritmo da melodia. Perplexo observei uma dança estranha, onde somente os dedos, freneticamente se moviam nos teclados iluminados das dezenas de celulares que compartilhavam aquele momento com os que estavam ao seu lado, vez por outra, com os que ainda não haviam chegado.

Tive dó, muita dó daquela gurizada! Não podiam compreender, quanto tempo perdiam por se ligarem demais ao papo virtual e se desligarem ao mesmo tempo de uma realidade palpável e muito mais interessante.

Faltou o sorriso da manhã, a compreensão e o entendimento ao longo do dia, o encontro e o abraço na noite... e aí eu entendi que não consigo mesmo entender nada dessa maluquice que estamos vivendo.

Mas não podia deixar aquilo barato, esqueci o cansaço e as dores nas pernas. Dancei com as luzes no ritmo da canção, parecia levitar, tão doce era o momento de tamanha entrega, quando já não havia ninguém no salão, rodopiei sozinho e não me importava se achassem estranho o xaxado de um pé só. O importante foi ter contagiado os demais que passaram a me acompanhar.

Aconteceu então o abraço, o beijo, o carinho e o mais importante... o sorriso.

Da estranheza, não entendo, mas de afeto...

Isso sim, Entendo.

George Paulo 21/12/2014