Acabou
Ja tinha acabado há algum tempo, é verdade.
Mas só naquele momento eu me dei conta.
Olhei para a garrafa.
Não havia mais nenhuma gota.
A embriaguez ainda estava lá, de mãos dadas comigo, me mantendo cego... mas com o tempo se esvairia.
Era tarde demais para fazer algo a respeito...
Era cedo demais para dormir.
Tudo parecia chegar a um fim precoce naquela noite.
O incenso que se desfazia em cinzas,
o filme na TV que eu fingia assistir acabara
e agora a bebida...
me restava apenas a velha angústia...
que me mantinha acordado,
mas incapaz de fazer qualquer coisa produtiva...
que me punha a encarar o teto esperando o tempo passar
me arrastando como uma aranha embriagada de inseticida
me contorcendo de barriga para cima esperando um sono que não chegava.
Acabou! Acabou, Rômulo.
Aquelas palavras ecoavam pela minha cabeça
e eu não tinha o uísque para silenciá-las.
Iam me rasgando por dentro
me fazendo relembrar de coisas que eu preferiria esquecer,
se fosse possível.
É uma pena...
queria realmente, que o uísque não tivesse acabado