A descoberta do Álbum Branco

É inexplicável a sensação de conhecer e ouvir uma obra dos Beatles pela primeira vez.

Há cerca de 45 anos, tive uma grande alegria na vida. Aos 13 anos, começava a descobrir os primórdios do Rock ‘n Roll, com Stones, Doors, Monkees, Herman Hermits. Um pouco depois conheci Black Sabbath, Hendrix, Floyd, Zeppelin, Emerson, Lake & Palmer entre outros. Beatles sempre foram meus favoritos, desde o início de “Please Please Me” até “Magical Mistery Tour”.

Mas numa tarde de forte chuva, saí de casa com um único propósito: comprar um novo disco dos Fab Four, que ouvi dizer que estaria sendo lançado naquele dia.

Estive sempre atualizado, dentro do possível, pois as únicas fontes confiáveis de notícias musicais do exterior, eram divulgadas nos programas do nosso Big Boy, e do Nelson Motta.

Assim que soube do lançamento, pedi dinheiro aos meus pais para embarcar nessa grande viagem. Viagem sem volta.

O disco duplo já era um caso à parte: na época isso era incomum.

Ao chegar em casa com aquela relíquia, minha família ficou maravilhada com o conteúdo do pacote. Quem diria, um disco praticamente sem capa. Ou seja, uma capa branca que dizia apenas: THE BEATLES.

Ao desfolhar lentamente o conteúdo, descobri um grande poster onde havia todas as letras das músicas e no verso inúmeras fotos da banda em situações pitorescas. Mais ainda: havia também uma foto 20×25 de cada beatle, em papel fotográfico de alta qualidade, que até hoje guardo como se fossem novas.

Bem, o mais importante dessa história é realmente o conteúdo musical que a obra me apresentou. 26 músicas inéditas dos Beatles. Isso foi demais.

Não tenho como descrever a emoção que senti ao ouvir pela primeira vez aquele álbum antológico.

De “Birthday” até “Good Night”, vi, vivi e entendi o que é o Rock, passando pelas baladas, e testemunhando o início do Heavy Metal em “Helter Skelter”.

Penso que aquele dia em que ouvi “Yer Blues”, uma nova história musical se iniciou na minha vida. Como é possível um “simples” álbum da minha juventude, transformar-se em uma marca perene na minha vida?

Nada mais foi como antes. “Blackbird” povoou meu quarto, “I Will” tornou-se o hino do meu sentimento e “Obladi-Oblada” foi consenso na minha casa: todos amaram e aquele som e ficamos ainda mais unidos ao redor da vitrola que não se cansava de tocar “Happiness Is A Warm Gun”, “Long Long Long” e muito mais, repetidas vezes.

Ao ouvir “Revolution #9″, não entendi nada! Achei que poderia ser defeito no disco de vinil. Mas o defeito era meu! Levei muito tempo para entender musicalmente o que era a “#9″, só então presenciei a aurora da música britânica que fascinou o mundo inteiro.

É impossível identificar a música-auge do disco, mas em “While My Guitar Gently Weeps”, Harrison mostrou ao mundo como um “riff” pode ser eternizado como símbolo de paz e amor pela humanidade – vide “The Concert For Bangladesh” em 1971.

O Álbum Branco imprimiu na minha personalidade uma tatuagem forte o bastante, para que meu gosto musical não se desviasse do caminho do bem, sem me render aos falsos ‘rocks’ e me pegar até os dias de hoje cantarolando “Cry Baby Cry” ou “I’m So Tired”, “Glass Onion”…

A emoção que tive naquela época não pode ser traduzida em palavras, resta-me relembrar e ouvir o “Album Branco” do começo ao fim, coisa que pretendo ainda repetir por longos anos.

A minha alegria é completa, porque consegui transmitir para minhas filhas, o amor pela boa música e o conhecimento da cultura ‘beatle’. E não pára por aí: a disseminação dessa cultura me dá certeza de que o cenário musical não está restrito ao lixo que prolifera a passos largos na mente das nossas crianças. Felicidade é ouvir minha neta desde os 4 anos cantando “Obladi-Oblada”………………….

J Roswell @jjroswell

JRoswell
Enviado por JRoswell em 16/01/2015
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