Lancei-me ao teu amor

Lancei-me ao teu amor como quem brinca de olhar pelas frestas, devagar e aos poucos, pelos recantos dos teus olhos sempre em maresia e tu, tocando-me as mãos, abocanhastes o que de mim se libertava em fantasia, me revelastes o segredo da nudez distante que de longe abeira-se aconchegada às palavras que se cruzam fazendo amor no crepúsculo da tarde. E há um silêncio entre nós, um silêncio cúmplice que grita quando nos buscamos no limiar das letras que se acasalam, quando nossos corpos se movem na penumbra do quarto, pelas avenidas, por entre a relva ou no meio do oceano em chamas. Há um silêncio que nos une quando nos damos sem pudor, sem recusa, entre salivadas bocas que se mordem entreabertas de desejo. Espalhastes ânsia e tempestade, dei-te a chama de um verão aberto e viril. Nossos corpos desdobram-se em azul e se pertencem, são fios refeitos de luz que se adentram em nós sem defesa, desesperados, maravilhados, extenuados de descobertas.