Dentro de nós um coração e uma espera que não cessa
Dentro de nós um coração e uma espera que não cessa. Minhas mãos se enchem de encontros e partidas, torturam-se, machucam-se, amarram-se enlouquecidas. Erguemos a taça da paixão e um súbito amor nos avassala o peito de esperas, como mar devorando encostas, enquanto no horizonte a lua nasce esperando o acasalamento das estrelas. Assim somos amor, desencontrados de nós. Eu em pensamento, toco tua boca nua e espero de longe teus beijos e tu sem querer em coito de esperas tocas meu corpo com tua linguagem de poemas. Foste tu que enchestes minhas mãos de luar e meus olhos de estranhas marés outonais. Fostes tu que cedo me embriagastes de desejo e fúria enquanto ardias ao cair das tardes e a tua a minha e as nossas sombras projetavam-se e fundiam-se no asfalto da espera. E é tudo tão longe amor, quando estamos à margem de nós, à beira do encontro, numa certeza intrigante que apenas estás em mim, inquieto e tardio, no repouso de uma ansiosa manhã, no alçar voo dos pássaros de janeiro.