De grão em grão [73]
As redes sociais são festivais de felicidades. Todo mundo posta o seu melhor ângulo, do momento mais feliz, da situação mais desejada, do sonho concretizado. Ninguém mostra imagens das tragédias pessoais (às vezes de infelicidades alheias sim, mas próprias nunca). E isto é óbvio.
Todo mundo gosta de mostrar o seu melhor aspecto. Porque todos têm aspectos feios também. Normalmente, a gente detesta que postem aquela foto que nos foi tirada de surpresa, sem que tenhamos tempo de fazer uma cara boa, uma pose de feliz.
Com isso, criamos uma redoma de felicidade, um mundo isolado (da realidade) nas redes sociais. Claro que tem o caso de pessoas lamuriosas ou que gostem de fazer manha, um charme, chamar a atenção por meio de alguma choradeira. Mas são minoria. As pessoas em geral gostam mesmo é de exibir felicidades, ainda que não tão verdadeiras.
E então, se somos contagiados por este mundo de felicidade virtual, vendo as imagens da maior alegria dos amigos e até de gente desconhecida, acabamos tentados a mostrar também a nossa felicidade, para provar que fazemos parte deste mundo. Ninguém quer ficar de fora, parecer infeliz. E para participar, é preciso mostrar, ainda que com uma dose superestimada ou fantasiosa.
Por outro lado, quem não se rende a este mundo artificial ou por algum motivo não quer fazer parte da brincadeira, pode acabar achando que todo mundo é mais feliz do que si. “A minha felicidade não é tão grande assim, digna de ser postada...”, divagará. E engano maior não poderá haver. É como ir a uma festa, encontrar todos animados e bem vestidos, e pensar que o mundo inteiro é assim em todos os momentos.
Para muita gente é conveniente demais viver este mundo ilusório, escapar da dura realidade. Cria-se uma nova pessoa, com a identidade e as características que se desejar. Fala-se apenas com quem quiser, no momento que mais lhe agradar. Pode-se excluir as pessoas indesejadas, e acrescentar muitas outras novas. Um mundo muito fácil e atraente, perigoso e irreal.