Devagar e aos poucos morremos
Devagar e aos poucos morremos no nosso tempo em meias palavras, a meio termo de nós. Devagar todas as coisas e até o oceano parte em silêncio, enquanto meu coração repousa em ti e a cor desaparece e já não há pontes por sobre os rios, quando já não há palavra que reste e uma parte de nós se apaga no voo que não fizemos e já não há medida exata de um poema que fale do meu amor. Não sei o que passou, quando tudo ficou em ti, quando o poema não se deu e se calou, o que faltou, o que restou de nós, meu amor. Assim vamos morrendo nós do amor que fiz de ti como uma causa perdida sempre a partir no ocaso das horas. Assim vou morrendo repleta da minha e da tua vida, sem conseguir dizer-te adeus a multiplicar despedidas, a juntar meus pedaços de ti e a te recolher no descampado dos meus seios vãos. Agora sei, és a partida e és a chegada antes de despertares na linha do horizonte que nos separa e este amor insano é só meu, e não se apaga, e corre fazendo barulho de (a)mar por entre as paredes do meu quarto.