De grão em grão [66]
É o desejo que nos move. Quando maior o desejo, mais longa é a nossa caminhada. O desejo é o combustível que nos leva ao objetivo, a “satisfação” do desejo.
Um grande desejo é capaz de mover montanhas! Basta observar os apaixonados. São capazes de tudo para ir ao encontro da pessoa amada. E não há restrições que os impeçam: seja falta de dinheiro, tempo, distância, sol, chuva, as famílias, os compromissos, outras responsabilidades. Quem quer acha um meio.
Porém, no intervalo entre o despontar do desejo e a sua realização, sofremos. Inevitavelmente. Desejamos apenas aquilo que não temos. E se não temos e queremos, sofremos. E tão logo satisfazemos um desejo, surge outro instantaneamente. Matamos a vontade muito rápido e mais depressa ainda já surge outra. Viver é um eterno desejo...
Foi percebendo isso que há muitos milênios atrás, lá na Índia, um sábio conhecido como Shakyamuni inicialmente aconselhava as pessoas a abandonarem os seus desejos para serem felizes. O raciocínio era: se sofro por desejar, basta eliminar o desejo, deixar de querer.
Na prática, não sei como isso funcionaria hoje... nem naquela época. Por isso que o próprio sábio Shakyamuni, mais no final da sua vida passou a recomendar às pessoas que buscassem um equilíbrio – o Caminho do Meio.
Muito tempo depois, outro sábio chamado Nichiren, no Japão, instruía as pessoas a buscarem a satisfação dos seus desejos de forma digna e elevada. Ele não fazia referência aos desejos carnais, por exemplo, mas dizia que é exatamente a existência dos desejos que conduz à felicidade.
A inquietude do desejo nos impulsiona. Quem não deseja não avança, fica estagnado. A questão é não ser dominado pelos desejos animalescamente. O saudável é ter consciência disso e saber usar os desejos ao nosso favor, exatamente como fonte de disposição e energia.
Afinal, como aprendi, “quem quer faz, quem não quer explica”.