Foto: 31/12/1978 - Feira de Santana - Bahia

Tributo a LISIEUX ROLIM – NOSSA MÃE
(In Memoriam)


Hoje volto a falar de alguém muito especial. Tão especial que, sem ela eu não estaria aqui. Consequentemente você não me poderia ler agora.
Maria é seu nome. Um nome simples para uma mulher extraordinária. Esse nome não seria o seu nome. Minha saudosa avó, Toinha Rolim chamara-lhe, ao nascer de Lisieux. Assim quisera que fosse chamada. No entanto o padre que a batizou comprou uma briga feia justo na hora de registrar-lhe o nome:
_ D. Antônia! A Senhora não pode lhe colocar este nome. Este é nome de uma cidade da França. Já pensou o povo chamando-lhe por aí: “_ Lisier! Lisier!_” Que coisa mais ridícula!
_ Não vejo nada de ridículo! É Lisieux e ponto final! _ retrucou renitente minha avó.
_ Pois então, leve de volta sua filha que por nome de cidade eu não batizo, a menos que batizemos por Terezinha, daí a Senhora poderia registrar no cartório por Terezinha de Lisieux. Pode ser assim?
_ Não! De jeito nenhum! Se não pode ser Lisieux, então chamar-se-á Maria. E não se discute mais.
Resumindo, minha Mãe é Maria, mas ninguém a conhece senão por Lisieux. Ou Lisier, se preferir. Afinal, prevaleceu a vontade de Dona Toinha, mesmo que extraoficialmente.
[…]
Passou-se o tempo, ela se casou com Pedro Esmeraldo, nosso pai. Já eram quatro filhos e vésperas de eu vir ao mundo.
Conheci Dona Lisieux, senhora extraordinária, a justos sessenta e três anos, nove meses e treze dias. Ela trouxe-me à luz com muito amor, sendo eu, na época, o quinto filho, caçula apenas por um ano e três meses. Não deu nem para sentir o gosto, tive que ceder lugar ao meu irmão Joaca, ou como todos nós o chamávamos, o Neto do Papai.
Mamãe gostava de nos ter sempre por perto. Assim, tinha tudo sob controle à distância de um olhar, mesmo que de soslaio. Incrível como ela podia, sem palavra controlar-nos um a um. Era muito criticada pelas irmãs e vizinhas, mas ela nunca teve a mínima reclamação de malfeito de qualquer um de nós. Éramos o seu orgulho. Como gostava de falar dos dotes naturais de cada um. Flagrei-a muitas vezes se gabando de nós, de meus desenhos, de minhas poesias. Eu ficava todo errado com receio de não corresponder. Mas, mãe é mãe. Fazer o quê?
Crescemos, constituímos família, demo-lhes netos, bisnetos. Os bisnetos que de mim vieram chegaram após ela e Papai já terem partido daqui. Mas continuamos em nossas descendências transmitindo todos os valores e bons costumes que deles recebemos.
Éramos dezesseis. Primeiro foi a Lisiètte que subiu para a Morada Celeste. Eu era de quatro anos. Em 1973, foi a Aninha que também foi morar no Céu. Bom tempos  aqueles. Éramos um bom time de quatorze. Tivemos altos e baixos, mas formamos sempre uma equipe coesa. O orgulho de Dona Lisieux. Fomos e ainda somos uma grande família.
Mulher altruísta nunca vi igual. Sinônimo de amor, essa é minha amável mãe. Primeira a se levantar e última a se deitar. As horas mais difíceis, creio, era a das refeições. Tinha que multiplicar o pouco que tinha com um batalhão inteiro de filhos. E ainda chegavam os parentes e aderentes, alguns passageiros da linha Missão Nova – Juazeiro do Norte – CE, velho e exótico caminhão-misto. Não sei como ela conseguia, mas vi de olhos arregalados as inúmeras vezes que esse milagre acontecera através de suas mãos. Era a última se servir e, graças a Deus, ainda dava para ela se saciar, com certeza. Só poderia ser um milagre que eu vira reprisar inúmeras vezes enquanto moramos na Rua do Fogo, em Barbalha, Sul do Ceará.
Hoje são exatos doze anos e sete meses que Mamãe nos deixou e foi para a Glória Celeste, lugar bem propício para alguém tal qual ela sempre foi. Era o ano de 2002, seria o dia 30 de junho. Ela havia planejado esse dia para juntos torcemos pela Seleção Brasileira e ao mesmo tempo comremorarmos o aniversário do Papai, seus 84 anos. Naquela semana, ela contava os dias e as horas para nos receber. Dizem que ninguém morre de vésperas. Mas, para mim, ela foi assim, de véspera. Estaríamos no domingo festejando o aniversário no nosso pai e, de quebra, a conquista do Penta. Foi o dia que os brasileiros tanto sonharam. Mas para nós, nada significava. Embora o Brasil todo festejasse, nós ali chorávamos a perda irreparável de nossa amável mãe. Faltavam vinte e seis dias para que comemorássemos os seus setenta e cinco anos de vida. Também não deu.
Fato é que nossa Mãe nos deixou sem volta, mas só fisicamente. Ela está presente em nosso DNA, em nosso patrimônio genético / social, marcadamente nem nosso caráter e personalidade, em nossos corações. Isso é inviolável e ninguém, nada pode suprimir de nós. Nós somos o que ela sonhou e procuramos sempre honrar tanto a ela quanto ao Papai em tudo e por onde nós formos.
Éramos dezesseis. Com a partida de Lissiètte, Aninha e, mais recente, do Francisco Demouthié, carinhosamente chamado de Chicão pelos familiares e amigos, somos agora apenas treze. 9 de janeiro deste ano de 2014, a Cinete subiu a fazer companhia com eles. A dor dessas duas baixas em nosso time, nem você, Mamãe, nem Papai sofreu. Pelo contrário! Imagino a imensa alegria ao recebê-los aí em cima, junto ao Senhor!
A você, Mamãe, nosso amor e eterna saudade.


(Seus filhos, netos e bisnetos)
Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 17/12/2014
Código do texto: T5072877
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.