Conto Nublar #104: SOLILÓQUIO NO BOSQUE SOLIDÃO

SOLILÓQUIO NO BOSQUE SOLIDÃO

Conto Nublar #104

Andando irrequieto, numa preocupação sem motivo, adentro o Bosque Solidão. Um lugar aprazível, bem sossegado. Um convite à meditação.

Bancos ebúrneos, aquecido pelos raios ultravioletas da manhã. Um calorzinho mui agradável, dá um toque aconchegante ao lugar. Ventos suaves roçam os tubos dos gradis que cercam o lugar. Conforme varia sua força, emitem sons em tetracordes bem afinados. É como ouvir segundos violinos de uma orquestra a preencher os espaços vazios de uma rapsódia em longos arcos: “Auum-auum-auum”… Passarinhos completam a inefável melodia em contrapontos, em diversos naipes de chilreados e trinados.

Só quem passa por Onirópolis pode usufruir desse ar e tudo que é possível encontrar num lugar onde a realidade é virtual e se pode desfrutar do que a imaginação é capaz de ilusionar. Sigo adiante. Hoje mais que nunca quero explorar ao máximo minha paixão oniropolitana. Ouço suspiros vindos da quina leste do bosque. “Quem será?”, pergunto aos meus cadarços. Vou conferir e vejam só quem encontro!

_ Não acredito! É você mesmo, C. Aremse?

_ Em carne e osso, Od Peterson! Vim meditar um pouco. Nenhum lugar melhor do que aqui, no Bosque Solidão. Não é mesmo?

_ Sim! Claro! Faço isto quase sempre. Hoje não seria diferente. Mas, me conta as novidades? Por que essa cara de quem comeu e não gostou? Assustado com o que, Primo!

_ Nada disso, Mano! Mas ando ansioso, por mais calma que tente sentir. Não sei explicar. Acho que deve ser por causa do Estaleiro que devo baixar depois de amanhã. Estou confiante, tenho quase uma certeza absoluta de que tudo vai dar certo, mas não me sinto totalmente em paz. Deve ser TPC...

_ TPC o quê, meu?

_ TPC, Od! Tensão pré-cirúrgica.

_ Calma, Primo! Isso não é bicho de sete cabeças, não! Sabia? Coincidentemente, vou ser operado depois de amanhã. Mas estou tranquilão! Nem aí! Se tudo ocorrer bem, legal! Se não voltar, tudo bem! Me mudo de vez pra cá. Onirópolis, me aguarde!

_ Que é isso, Od! Brincadeira tem hora e, com isso não se brinca!

_ Ah, Cê! Vai dizer que amarelou! Cabinha mole! Deixa disso, Primo! A gente tem que viver na esportiva. Tirar sarro até do 'Da Foice'.

_ Sem essa, Od. Não brinque com coisa séria. Nem gosto de tocar no nome. Invento outro pra não ser tão íntimo da dita. “Desviver” ninguém merece. Tô fora! Posso te pedir um favor!

_ Claro, Cê! O que quiser. Manda!

_ Não vá zombar de mim, Od! Se eu não voltar, peço que não chorem por mim. Eu estarei num lugar bem melhor, com certeza. Também estarei presente em meus textos, em cada estilo teu, onde coloquei meus sentimentos, um pouco de mim. Assim, sou um pouco de tudo o que escrevi. Ao lerem meus escritos, farão com que eu permaneça vivo na lembrança de cada um.

_ Agora sou eu quem digo. Pare com isso, Primo! Você é jovem e forte! Não deve pensar em algo tão simplista assim. Vamos lá! Pense positivo! Confie em D'us! Ele é o nosso refúgio e fortaleza. Socorro bem presente nos momentos de angústia. Saia dessa, meu! Assim você me deixa triste e vou findar sendo sugestionado por seus pensamentos agourentos. Chispa! Sem essa!

_ É Od! Melhor não pensar nisso. Pensar no negativo que certamente não ocorrerá é sofrer de vésperas. É penar duas vezes. E se nada disso ocorrer, teria sofrido em vão. Melhor pensar positivo, fazer planos de curto, médio e longo prazo. Assim temos grandes em múltiplas chances de lograr êxito.

O Cê é uma comédia! Preocupa-se com tudo. Tem uma fértil imaginação. Pra quem não o conhecia, esse é meu primo-irmão, quase um perfeito clone de mim. Se fôssemos mabaços, irmãos univitelino, não nos pareceríamos tanto.

_ Tá bem, Cê! É assim que se fala! Gostei de ver e ouvir!

_ Isso, Od, mas só mais uma coisinha desse tamanhinho! Peça aos amigos e irmãos que orem por nós, para que tenhamos uma boa cirurgia, que o Senhor esteja lá presente, a guiar os médicos. Que seja o Altíssimo e não eles a nos operar. Faz isso, primo?

_ Ah, Primo! Esse C. Aremse é incorrigível! Tá certo! Darei seu recado. De alguma forma eles já estão cientes de seus temores e súplicas. Relax, Cousin (Relaxa, Primo)! O Senhor é conosco. Ninguém parte de vésperas.

_ Valeu, Od! Assim fico mais sossegado e confiante. Ah! Só mais uma coisinha assim... Se eu não voltar, diga que me mudei pra Onirópolis. De algum jeito ou medida poderemos nos encontrar por lá.

_ Primo Cê! De novo não!

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 23/11/2014
Reeditado em 28/11/2014
Código do texto: T5046089
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