De grão em grão [55]

Descobri um troço ruim, que eu não sabia que existia e muito menos imaginava que seria tão ruim: briga inaudível. Do mesmo jeito que há “coisas invisíveis”, existem as brigas inaudíveis.

Eu sabia que existiam as “coisas indizíveis”. Palavrões, ofensas, sinceridades excessivas a ponto de machucar. Tem coisas que não se deve dizer mesmo. Ou porque doem, ou porque os não ouvintes já sabem.

Agora, briga inaudível é muito ruim. Só quem já viveu sabe. Fica um clima péssimo, um suspense, um eterno não saber e ao mesmo tempo saber que a qualquer momento alguma coisa pode acontecer. Uma confusão danada de sentimento.

É muito pior do que uma briga explícita, em que é dito tudo que se passa na cabeça e no coração, se altera a voz e os ânimos, e nem se importa que exista plateia acompanhando tudo atentamente. Neste caso, existe o desabafo. Tudo é dito e ouvido com todas as letras. Pode até haver arrependimento posterior –pelo tom da voz, pela intensidade das palavras usadas, pelo descontrole ou sentimento exaltado. Mas esse calor da emoção também é altamente esclarecedor.

Já uma briga inaudível, acontece a pretexto de um suposto respeito, por receio das consequências das palavras que seriam pronunciadas, de experiências anteriores ou então por descrença mesmo. Pode ter havido tanta briga audível antes, que por cansaço, não há mais um pingo de ânimo sequer para falar. Sinal de indiferença, pouco caso. Péssimo mesmo. A pior coisa que pode haver. Não resolve e ainda posterga qualquer decisão.

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 23/09/2014
Código do texto: T4973046
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