De grão em grão [52]
Viver bem é uma questão de equilíbrio. A gente sabe que tudo em excesso faz mal, só que mesmo assim às vezes nos excedemos. Por que é tão difícil encontrar a medida certa?
A gente até tenta calcular o melhor ponto entre os dois extremos. Sabemos que se comer demais, engorda; de menos, adoece. Se exercitar demais, machuca; de menos, enfraquece. Se não correr o suficiente, se atrasa; se correr demais, chega muito cedo e precisa esperar.
Pode-se morrer pelos extremos: tanto desidratado como afogado, por inanição ou congestão, hipotermia ou insolação, falta de medicamento ou overdose. Morre-se também, sem perder a vida, de cansaço ou de tédio, de raiva ou de preguiça, de desgosto ou de vontade.
Mesmo aquilo que gostamos muito, que sentimos prazer em realizar, se fizermos sem parar, dia e noite, perde a graça, deixa de ser gostoso, pode até causar dor... O excesso inverte as coisas, os sentimentos.
Tudo isso a gente já sabe. O que às vezes a gente não percebe é que entre os dois extremos não há uma escala, não existem marcas, graus, subdivisões, gradação nenhuma pra saber se chegamos, se passamos ou se ainda falta muito. E aí, vivemos numa eterna gangorra.
Em uma não, em várias gangorras! Como um equilibrismo de pratos girando sobre tacos! Se a gente foca demais em um aspecto da vida, acaba negligenciando outro. Se a gente prioriza demais uma questão urgente, outros pontos importantes acabam escorregando entre os nossos dedos.
Por isso, tudo é importante. Embora o tempo que dedicamos a cada questão não seja o mesmo e cada fase da vida exija uma atenção diferente, as prioridades vão mudando, os sentimentos vão passando e a vida vai seguindo. O importante então é caminhar.