Mais uma madrugada improdutiva

Eu tinha resolvido me deitar e dormir antes da meia noite. Queria acordar cedo e sair para fazer algum exercício físico e talvez me sentir um pouco mais vivo e útil.

São 2:32 da madrugada e eu permaneço acordado. Sentado em frente ao computador ouvindo música e brigando com uma tela em branco, quando devia estar deitado e de olhos fechados.

Pessoas normais dormem de noite e vivem e produzem durante o dia.

Já faz muito tempo que eu não me sinto normal...

2:45...

A tela continua em branco... Apesar de minha ânsia por escrever e despejar meus pensamentos e angústias no papel.

Tudo me parece baboseira...

Tudo me parece desconexo.

Devia ter ido dormir...

Insisto, no entanto. Mas a tela continua em branco. Palavras surgem para logo serem apagadas num ciclo eterno de criação e autodestruição.

Insisto até me sentir idiota.

Me pergunto se outros escritores sofrem como eu.

Não os defuntos que eu costumo ler... Já publicados e consagrados... mesmo que postumamente.

Pergunto-me sobre os escritores atuais e tão suburbanos e desconhecidos quanto eu.

A verdade é que nunca esbarrei num bom escritor nesses meus 28 anos de existência. Pelo menos nenhum que eu considerasse bom. Mas essa é uma questão realmente pessoal.

Nunca tive a oportunidade de conversar pessoalmente com alguém tivesse um estilo de escrita semelhante ao meu. Que tivesse preferências semelhantes, ou que enfrentasse madrugadas de insônia como as que eu enfrento.

Os que eu conheço se referem à escrita como uma atividade prazerosa e tranqüila.

Para mim, escrever é tudo menos tranquilo...

2:58...

Cansei...

Desligo o computador e me jogo na cama com um gosto amargo na boca.

Um gosto de derrota e de impotência.

As palavras não param de gritar em minha cabeça, mas resistem em vir ao mundo.

Não existe lugar para o sono em mim esta noite.

Logo estará claro. Eu estarei dormindo, até o meio dia, provavelmente.

Acordarei anestesiado... e tudo seguirá como anteriormente...

Sem um propósito imediato.

Assim serão os próximos meses...

Gostaria de ser como aqueles escritores de trivialidades. Escritores do céu azul... Poetas da alegria...

Gostaria de ser fluido, constante e sereno.

Mas minhas palavras não são assim.

Elas se engalfinham e tiram todos os meus pensamentos do lugar...

Tornam tudo em uma imensa confusão... Agridem, devoram, violentam, gritam. Só saem de mim quando querem. Do jeito que querem...

Não há negociação ou meios termos...

Se pudesse, desistiria delas e poria um fim nisso tudo.

Mas que tipo de homem seria eu se fizesse isso?

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 15/09/2014
Reeditado em 15/09/2014
Código do texto: T4962375
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