De grão em grão [39]
"Aquilo que está escrito no coração
não necessita de agendas porque
a gente não esquece. O que a memória
ama fica eterno." (Rubem Alves)
Terminei a leitura de “Pimentas – Para provocar um incêndio, não é preciso fogo”. Eu a havia interrompido faz algum tempo, não me lembrava por quê. Retomando-a, deduzi que foi por dó de acabar. Com os livros lindos são assim: desacelero a leitura no final.
Com isso, e não exatamente com o conteúdo da obra, entendi que existem dois tipos de memória: a da cabeça e a do coração. Às vezes lembramos racionalmente mas não emocionalmente. Sabemos que algo é preciso mas não temos vontade. Ou queremos, sabendo que não podemos.
“Eu não lembrava mais do quanto gostava disso!”, mas é claro que me lembrava “que gostava”. A exclamação pelo “quanto” deve-se justamente à relembrança da memória do coração.
Exemplo típico: “essa música me faz lembrar a época em que...”. Ou seja, a cabeça não lembrava mais da época, mas o coração sim. E foi o coração, tocado pela emoção da música, que reavivou a memória da cabeça.
Ambas andam juntas, uma ajudando e ativando a outra, mas são guardadas separadamente. Tem coisas que a cabeça lembra mas quer deixar bem lá num canto do coração. Já outras que o coração adora trazer de volta à mente.