De grão em grão [23]
Quero bradar aqui uma campanha: que todos os livros a partir de agora tenham apenas “notas de rodapé” e não mais aquelas notas ao final da obra. Sim, porque é muito incômodo ter que ficar indo lá para frente ver a que se refere aquele minúsculo número que é colocado como um expoente da palavra. Até parece mesmo, matematicamente, uma palavra elevada a um expoente.
Nem todo vai-e-vem é bom. Tem sim muitas coisas gostosas de se ir e vir, ir e voltar, vir e repetir, querer sempre mais, nunca se fartar. Mas esse negócio de ficar indo e voltando lá do final do livro pra ver o que é se observou a respeito do texto principal, é muito chato! Muitas vezes são apenas referências, a fonte do trecho que foi citado de outra obra. Ou então obviedades. Raramente tem algo imperdível.
Mas a curiosidade (ou a consciência?) não me deixa ignorar essas irritantes “notinhas do fundão”. No fundão da obra ou mesmo no final do capítulo (as “notas de fim”) são desagradáveis, não gosto. Me vejo obrigado a ir lá na frente olhar e voltar, olhar e voltar, olhar e voltar, olhar e voltar...
Seria tão prático se todos os livros tivessem as benditas notinhas apenas no rodapé da própria página! Bastaria a gente baixar um pouquinho os olhos para vê-las e rapidamente retomar a leitura. Muito mais prático!
O nosso amigo Rubem Alves foi além. No seu livro “Variações sobre o prazer”, além de não inserir as desconfortáveis “notinhas do fundão”, ele cria as deliciosas “notas de canapé”: “coisas pequenas e saborosas, algumas doces, outras apimentadas, que abrem o apetite, e que são servidos no meio da festa. Se você não quiser provar o canapé, pode declinar o convite e continuar a leitura.”
Solicito encarecidamente que você contribua e divulgue esta campanha: chega de “notinhas do fundão”! Notas, apenas no rodapé ou de canapé!