De grão em grão [16]
“Escrevo na solidão do meu escritório. Sozinho,
não sinto vergonha porque não há olhos
que me vejam. Confessada como literatura,
a vergonha se torna suportável. A literatura
é a ‘feiticeira curante’ que pode transformar
a vergonha em arte.” (Rubem Alves)
Sofro de um mal chamado solidão. E ela me acompanha constantemente. Tento escapar dela refugiando-me com outras companhias. Mas ela fica de espreita, de plantão, e me abocanha sempre quando menos percebo.
Já escrevi muito sobre a maldita praga inescapável. Muito poema, muito texto aliviador. Mas ela insiste, persiste, não me abandona nunca. Mesmo cansado. Mesmo enjoado. Não há o que fazer...
A pior solidão é aquela que se sente em meio a uma multidão – de pessoas, de amigos, de e-mails, de lembranças, de coisas para fazer. Aquela solidão que sentimos quando nos perdemos dentro da gente mesmo. Aí parece que nenhuma companhia externa é capaz de espantar a solidão...
Ponho-me então a escrever. Uma multidão de palavras soltas, ao vento, sem sentido, mas muito sentido.