O Silêncio das coisas quebradas
Não sou algo quebrado que você possa consertar, ela disse.
e em seguida veio o silêncio.
Caminhei pela casa com o celular na mão considerando seriamente jogá-lo pela janela.
Eu teria gritado um palavrão ou dois, se pudesse.
Não o fiz, pois era madrugada.
Nem ao menos tinha a solidão de uma casa só para mim, algo que tive por quase dois anos e com o qual me acostumara.
Pensei em responder-lhe, mas me contentei em reler todo o texto novamente,
tentando não me intoxicar com toda aquela merda, que só aquela mulher era capaz de vomitar em cima de mim. Não que o que ela falasse não tivesse pelo menos um pouco de verdade. O problema não estava no que ela dizia.
Eu odiava era a forma que ela dizia e também as suas motivações para tanta discussão.
Eu não entendia como podia me sentir tão atraído por alguém que no fim das contas era tão diferente de mim e que eu simplesmente não conseguia conviver uma semana sem trocar farpas e palavras duras.
Meus relacionamentos tinham o costume de fluir bem no começo. As confusões vinham depois. Com essa mulher as coisas não eram bem assim. Brigamos desde o começo e acho que tudo tem ficado cada vez pior.
Eventualmente voltamos aos braços um do outro, e por alguns dias parece que todos os problemas sequer existiram.
Mas desta vez acho que ela não vai mais me procurar, e acho que farei o mesmo...
Vou me agarrar neste silêncio e esperar que o tempo amenize as coisas,
talvez tudo se resolva
mesmo que o celular não toque novamente.