Calmaria de Julho
Não tenho nenhuma Lydia Vance na minha vida.
Nunca tive uma mulher que invadisse minha casa para quebrar minhas coisas e rasgar os meus escritos. Nenhuma que traduzisse frustração em violência física.
Nunca fui demitido. Nunca passei fome realmente.
Não atravessei o país com uma mala nas costas, como Kerouac ou Bukowski.
Não sou muito bom com minha prosa.
E com certeza não estou satisfeito com minha poesia.
Então me pergunto às vezes... Porque eu escrevo?
Para que?
Não consigo lembrar de algo realmente trágico em minha vida e agora nada me parece digno de nota. Sinto-me como se estivesse no meio do mar. Preso em uma calmaria. Sem vento para me empurrar, e nem mesmo uma tempestade para me afundar de vez.
Há apenas uma sensação de estranheza e de vazio.
Apesar de que isso não tem me incomodado. Poderia dizer que estou parcialmente feliz. Ou apenas levemente infeliz.
Já estive pior. Com certeza.
Hoje, pensei em me sentar à beira do porto para ver o Capibaribe escorrer para o mar,
e talvez pedir ao rio que carregasse essa angústia e esse marasmo.
Mas nem para isso tive disposição.
Em vez disso, me enterrei um pouco mais em meu casulo, e continuei entorpecendo minha mente no computador... Procurando perder a noção do tempo.
Só assim talvez eu esqueça que mais uma mulher me deixou,
e nem sequer consegui me lamentar por isso.
Talvez seja o primeiro sinal de que estou envelhecendo...
ou que eu tenha que mudar de rumo
ou pelo menos de direção.