Sobre o “Fraterno Andejar” da teoria Monckiana*
Luciana Carrero**
Estes textos dirigidos a X, Y ou Z, parecem-me uma distribuição de carapuças, chapéus, luvas e botas, a quem lhes sirvam. Não me parece, o alvo, apenas um Fake sem rosto e nem N pessoas na multidão pseudo-literária que assola os novos tempos. Para mim até serviriam algumas dessas indumentárias, em momentos pontuais, já que dificilmente visto a mesma roupagem lítero-poética, que muda dia-a-dia. Mas a abordagem Monckiana é agradável, e serviria para definir moda, já que os modismos sempre estiveram na literatura, também. Mas eu, que nunca andei na moda, sendo rebelde no trajar dos meus sentidos, analisei as peças e, de momento, não vou aceitar nenhuma. Até que em momentos esporádicos dos tempos em que vivo, serviriam, servem e servirão. Mas, não as vestiria, nunca. Se o fizesse, em qualquer época, do jeito que mudo, no amanhã amanheceria em desacordo com a moda pessoal do meu dia. Agradeço a parte que me tocou, já que roupas muito usadas dão coceira. Sempre é importante aproveitar o ensejo para analisar-me. E sinto que, quando o Poetinha fala a um ser ignoto, com tratamento na segunda pessoa, não posso prescindir de considerar-me uma suspeita de ser este (ser), em parte, é claro, porque ninguém é tão funestamente apropriado para vestir tantas mortalhas, enquanto estiver vivo. O seu texto (este “Fraterno Andejar”) e outros, com maior ou menor grau invasivo, deixam sequelas em alter-egos. Vão lá na psique mais profunda dos analisados ao acaso, a que se dirigem. Aprecio essas análises, porque gosto de desafiar e de ser desafiada. Admiro acompanhar seus raciocínios que cortam, como bisturis, as tripas dos dissecados, e que são acompanhados (os cortes) pelo anestésico do bom tom e de uma provável boa intenção, no jeito (este da confraternidade) de dizer. Esta diplomacia o livra da má aceitação do que diz, porque o faz numa atmosfera pacífica, científica e planejada por partes (anatômicas), como cortava Jack o estripador, exemplo este não tão pacífico quanto J.M. Mas mesmo assim citado, porque é mortal a vitimização do dissecado. Há algo psicótico e/ou neurótico, não necessariamente na mesma ordem pessoal ou analítica nos enredos que traçamos. Ele no seu texto; eu nos meus. E dissecada senti-me em muitos dos meus, ante a sua investida, visto que sou das poucas personalidades literárias que cultiva o lado obscuro desta arte. Isto é bom para que sejam, nossos universos, analisados por ambos; para que saibamos a que redis nos levam os posicionamentos corajosos, ao contemplarmos sentires diferenciados, que serão alvos de enfrentamentos, como é o caso aqui considerado. Entre nós, ambos escritores, nos articulamos a contento, pois confiamo-nos e respeitamo-nos, um ao outro. E nunca poderemos ferir a suscetibilidade de nenhum dos lados, imagino, porque gravitamos no terreno da intelectualidade, da filosofia, das ideias. Nesta lide precisamos ser sinceros, sem hipocrisia. Mas a figura do escritor, embora a confraternidade entre os pares, sempre foi de um ser solitário. Hoje, o escritor J.M. (ego, alter-ego ou id), parece impressionado e pressionado por feedbacks recebidos, que não raras vezes poderão desviá-lo da rota, pela necessidade que a si mesmo se impõe, de agradar aos interlocutores. Sendo assim, fica sendo, este leitor que rebate, o crítico malígno e a censura prévia, premeditada, do que o escritor publicará, no futuro. Já nem tanto acontecerá com o publicado, que veio à tona e motivou o rebote. Isto em termos, mormente sabendo que J.M. nunca considera que um texto está acabado (sic) e poderá vir a re-trabalhá-lo na visão dos leitores, perdendo assim sua individualidade criadora, como faz o novelista da Globo. Nada mais indigesto para a liberdade da literatura, porque o escritor "é" personal. Nada mais doloroso do que ser levado no garrote de trevas da caliúga deste século. Moncks mergulha, descontraído, nas influências da massa piranheira, parecendo acreditar que o leitor é um escritor; que quem consome nossa poesia ou literatura em geral é o coadjuvante da nossa arte; quando ouso preconizar que deveria ser apenas a clientela, no sentido mais amplo, acima até do comercial, para o escritor diletante e generoso como é o aqui analisado. Quem sabe possa um dia livrar-se; possam (livrar-se) nossos escritos, também, desta tendência de semear tutoriais que colocam a mosca azul da inspiração na mente dos não inspirados naturalmente, ensinando-lhes parâmetos de escrever, confundindo literatura e confraternidade. Porque, no dia em que todo mundo for escritor, ser escritor equivalerá a ser uma bactéria e, pior, partícula de confraternidade, que fervilhará numa ambiência de promiscuidade existencial primitiva. Este ecumenismo bacteriano, onde a partícula primeva se movimenta só em conjunto com as outras, sacrifica o individual e soterra ideais, retomando o ponto de partida que já se encontra obsoleto ante o caminho percorrido. Trata-se de um retorno à origem primordial da arte. Retrocesso, em vez de caminho para a frente. E o mundo da literatura será o caldeirão do caos, ambiência de enxofre quente, onde os elementares se acasalam e proliferam na mesma fermentação. Tudo que dizemos e escrevemos poderá ser usado contra nós, ou a favor de todos, para construção ou desconstrução da boa literatura. J.M. é um grande poeta e baluarte da nossa cultura. Preocupa-me, entretanto, esta beatitude que pode ofuscar a arte. Melhor eu veria e me sentiria, se estivesse J.M. a defender a confraria, o corporativismo e a reserva de mercado, a exemplo da OAB, dos conselhos profissionais e dos sindicatos, os quais me pareceriam redutos mais adequados, justos e salutares para a valorização da classe profissional de escritor, no mundo competitivo, que está criando uma classe blogueira a dar-se estofo de escritora. Salvo melhor juízo? Não posso dizer, porque, no contexto, estou radicalizando e não vislumbro outro cenário plausível de ser abordado com melhor proveito. Espero ter colaborado.
* Para melhor entender minha teoria literária, consulte o texto analisado “Fraterno Andejar”, de Joaquim Moncks, em sua página, aqui no Recanto das Letras.
** Luciana Carrero, produtora cultural, reg. 3523, LIC/SEDAC/RS