Depoimento de uma Autora
Luciana Carrero
No meu poema, “Saudade Louca Memória”, publicado aqui no Recanto das Letras, quem fala é a reflexão do intelecto, que especula sobre a suposta insanidade dos sentimentos rememorados no caos. Obrigada pela paciência dos leitores, mesmo ante as abordagens pessimistas que, por vezes, aparecem nos meus textos. Como já dá para notar, em grande parte de minha obra literária,sou a escriba condenada a dizer palavras da boca dos desgraçados e que podem não ser minhas, necessariamente, embora muitas vezes sejam apresentadas na primeira pessoa, como foi o caso. Para mim a primeira pessoa é o mote que assoma e rasga minha alma para deixar adentrarem outras vozes. Nem sempre escrevo "poesia", na verdadeira acepção. Aliás a essência poética que perseguimos é rara como uma pepita na bateia. Por isso, considero que ninguém é poeta o tempo todo, já que nem só de "ouro" se compõe o universo. Se encontrar algumas pepitas, o suficiente para sobreviver no meio (literário), já me darei por satisfeita. Assim vou escrevendo as mensagens “de alma, coração e vida”, como dizia Nelson Fachinelli, o saudoso fundador e primeiro presidente das Casas de Poetas do Brasil. E vou tocando as almas, na medida da capacidade que tenham de recepcioná-las, de acordo com a circunstancia do momento em que lhes entram na alma e/ou no intelecto. E, também, utilizando a melhor forma com que possam sair da minha lide, para que me sinta digna do dever cumprido, ressalvando-se as falhas de nunca poder tocar a todos. Nunca escrevi tanto na minha vida, como o faço agora. Não denominarei este mister de compulsão, porque não é assim que vejo este meu ato (de escrever). Na verdade, vejo-me como condenada, mais que escriba por compulsão da alma, e neste segundo caso, que não é o meu, parece haver só prazer. No verdadeiro sentido mesmo, sou a condenada maior, obrigada a escrever a dor dos desgraçados, mesmo que não queira, para não ficar com ela e assim morrer de desespero.