Teoria Literária - A partir de um texto de Joaquim Moncks
O renomado crítico literário riograndense, Joaquim Moncks, em seu notável texto APORTE CRÍTICO AO POEMA, escreveu, publicamente, no Facebook:
"No tocante às possíveis e prováveis melhorias estéticas no poema, não se trata exatamente de se constatar "certo ou errado" o conjunto poético (que pode até não conter Poesia), e, sim, a existência de beleza ou veracidade na peça em exame. O que é apontado pelo analista crítico são perspectivas diferenciadas sobre um mesmo tema formal e/ou conceitual. Porque, a rigor, o poema em si pouco difere – depois de publicado – aos olhos e concepção imagética do receptor, que o consome assim como ele se apresenta (lembras de que poesia é pra comer?), quanto ao conjunto de palavras, a não ser que a revisão substitua fundamente o seu conteúdo. Bem, neste caso teremos um novo poema, e não uma simples revisão. Não é menos verdade que cada leitor tem sua visão peculiar e intransferível. No entanto, a antítese sobre a forma e/ou formato de um poema autoral – especialmente quando novos ou novatos – funciona como revisão ou correção, caso o autor do texto receba bem o trabalho analítico e, então, por força da análise crítica, venha a fazer a autocorreção. Assim como o poema é sempre instigação sugestional, o aporte crítico também tem esta destinação: alertar para novas possibilidades de ampliação imagética do poema em exame. O autor é dono do seu trabalho e só a ele cabe a revisão definitiva, que corresponde ao segundo momento de criação: a TRANSPIRAÇÃO. O crítico é mero coadjuvante, o autor é quem vale para os direitos autorais. Mas, quando deste trabalho de duas cucas resulta uma boa peça poética, ganham todos, especialmente o destinatário do poema, que não aparece neste primeiro momento de vida da peça poética. O crítico é, em regra, o primeiro receptor da proposta ao pensar. A água da vertente pode ou não estar límpida..." (Joaquim Moncks)
MINHA RÉPLICA: Sobre o Machismo de um conceito emitido:
Bastante oportuna a abordagem - como sempre - do prezado irmão. Hoje, estando eu com espírito e/ou olhar de crítica ferina, não sei por que motivo, e mais, com disposição para agitar, pincei o entre parênteses do seu texto, a saber: "(lembras de que poesia é pra comer?)". E vi nele um certo "machismo", não só pela proposta da frase como ela mesma, mas como pelo conceito que carrega. Claramente sei que o meta-escritor usou aí uma metáfora, mas esta se presta a múltiplas interpretações. Chegou a mim como machismo literário. Poderia até ser apenas um brincadeira ou visão do meu humor do dia. Mas sinto que cala-me profunda. Como vês, eu interlocutora percebi um contorno que talvez o Poetinha não quis dar, mas deu a mim. Já sentira isso em outras ocasiões em que me deparara com este seu conceito, mas não abordara. Meu sentir ilustra a ideia central do seu texto, que parece-me ser de que cada interlocutor tira a sua conclusão. Abraços da sua admiradora e confreira para o que der e vier nos espaço das nossas lides literárias. (Luciana Carrero)
Tréplica de Joaquim Moncks:
"Apenas utilizei um conceito aliado, conexo e decorrente da ANTROPOFAGIA CULTURAL iniciada pelos modernistas de 1922, e que ainda está em processo de assimilação quase 100 anos depois, especialmente nuns moderníssimos romances e novelas nascidos aqui, no idioma português, e que acusam cópias, formas e formatação dos best sellers americanos, em especial, mais raramente nos europeus. Aliás, Maria Bethania, a baiana cantora consagrada, utiliza muito a expressão "Porque Poesia é pra comer!", no seu DVD "Maricotinha"... Também pode haver, subreptícia dentro de mim, uma certa dose do machismo de minha geração. Sim, por mais que se queira extrair a pele e conviver com outro momento cultural, sempre ficam as tatuagens. Grato por tua interlocução, querida Luciana Carrero! Abraços do poetinha JM."(Joaquim Moncks)
Minha resposta à tréplica:
Fora deste eixo da antropofagia, meu conceito é atual. Mais pé no chão com a realidade do século XXI. Não desconheço o aspecto histórico da mesma, é claro, nem de Bethania ou outros no panorama musical, também. Mas tenho procurado libertar-me destes grilhões de Movimentos. Mesmo dos atuais. Opto por um freestyle em tudo o que faço. E sou produto do meio. Acho que o meio me avaliza, de algum modo, para agir assim. O formato da literatura americana nunca me agradou e, se está realmente entrando no campo literário daqui, chega em um momento em que ninguém está preparado para ler calhamaços escritos para a burguesia. Seria preferível emergirmos dos nossos mares, pois ainda precisamos de uma literatura engajada para construir nossa identidade cultural. Mas também não precisamos buscar subsídios lá na Semana de Arte Moderna e nem nos justificarmos nela. Folgo que tenham pensado assim o Vinicius e outros pós-modernos. É melhor pegar a ponta do fio da meada e continuar em frente. Caso contrário sempre iremos lá buscar as mesmas coisas. E quem faz sempre as mesmas coisas tem sempre, e só, os mesmos resultados, com pequenas variações. Estudar o passado é uma coisa. São raízes. Mas querer transpô-lo para o ambiente atual, é outra. Buscar ambiente norte-americano, já é uma terceira. A resposta pode ser continuidade e não círculo vicioso. O Movimento da Semana de Arte Moderna foi glorioso, mas, com todo o respeito, não me representa. Considero que temos de buscar novas glórias, muito além dos ranços do passado. Não estou aqui polemizando, mas dando o meu depoimento. Sei que, do alto da sua sabedoria, poderá não assimilá-lo verdadeiro, mas o que digo precisa ser dito, para ser considerado no contexto dos estudos. Obrigada, mais uma vez, por correr na minha frente e obrigar-me a correr atrás na produção, já que dá-me tão belo exemplo de dedicação que procuro seguir, não só pelo exemplo, mas porque gosto e quero. Saber que não estou só é que faz-me entrar em todos estes temas. Porque, se estivesse só, perderia a graça. Sem interlocutores, como você mesmo apregoa, é clamar no deserto. Obrigada pelas interlocuções e pela atenção que me dá. Espero estar colaborando, e este é meu único objetivo. Sempre sua admiradora. (Luciana Carrero)