Elogio da Loucura do Poema - III - Repercussão
A pedido de Aldemira da Costa Aguiar, realizei uma pequena análise de parte de sua obra publicada aqui no Recanto das Letras, que pode servir também de subsídio a outros autores, principalmente aos iniciantes, aos quais não tenho a pretensão de ensinar, mas de aprender, também, com eles.
Prezada poetisa, o modo como apresenta seus trabalhos é de uma grande praticidade de comunicação. Chega ao extremo do didatismo. Há consumidores para este estilo, não nego, mas são pessoas do vulgo, que não olham a criação como primordial, no poema. Cada autor deve ter suas razões para escolher seus caminhos. Porém, seguindo a sua linha, considero que, quando ganha pela comunicação, pode perder pela qualidade poética. O quanto isto é bom ou mau para você, é você quem deve decidir. A poesia é estranhamento, alumbramento, é ato de instigar. Deve dar asas à imaginação, ao fantástico, ao transcendente, à criatividade, a uma visão especial e única de vida e de situações. A arte é marginal. O poeta é marginal do pensamento. Leia meu novo texto no Recanto das Letras "Elogio da Loucura do Poema II" - Repercussão. O poeta e a arte serem marginais, de que falo, não quer dizer no sentido de bandidos ou desajustados, mas no ato de serem independentes. Quem marcha como soldadinho comportado, ou que escreve por encomenda de editoras, jamais pode criar algum tipo de arte. Quem usa do lugar comum para expressar-se, vai ter de se ressentir da própria falta de identificação com a arte que considera cultivar. Ao mesmo tempo em que seguir uma linha de modismo é ceder a uma ditadura da sociedade. Eu não escrevo para agradar ou desagradar, mas como compromisso com a minha arte, tanto na poesia como na prosa de ficção. Nem mesmo nos textos técnicos eu cedo a verdades discutíveis. Tenho minha própria ambiência, forte, decidida, personal. O quanto batalhei contra a minha própria censura ao que escrevia, foi o que trouxe-me aos conceitos e formas de expressão que me são peculiares. Não sou melhor do que ninguém. Mas também não sou melhor do que a arte para censurá-la. Por isso não serei o primeiro e nem o último censor do que faço. Nem do que você faz. Mas já que pediu minha crítica, a formulei mais para que confronte sua visão com a minha e fique no seu termo, ou até em outro melhor que o meu e o seu. É o que se espera da confraternidade tão defendida pelo valoroso crítico Joaquim Moncks, que também está no Recanto das Letras e que merece ser lido por você, principalmente nos textos de teoria literária, já que vejo-a sentir a necessidade de aprimorar-se. Nos poemas dele, nem tanto, pois são de um universo aprimoradíssimo que pode confundir quem está procurando um caminho e ainda não está preparado para maiores voos, dado ao seu esmerado construtivismo. Mas pode arriscar, se quiser cortar caminhos ou simplesmente apreciar-lhe em sua obra poética. Aconselho-a a ler algo mais acessível, como de Paulo Leminsky, Luis de Miranda, Mário Quintana, Manoel de Barros, onde poderá encontrar subsídios de entendimento para o universo da poesia. Leia também os clássicos. E de tudo tirará seu caldo, exercitando sua própria alquimia. Meu livro de cabeceira é "Os Lusíadas", de Camões. Já li e leio 458 mil vezes. Não me dá sustentação na minha pintura, mas é o alicerce do meu prédio. Minhas críticas são sempre de má vontade, quando no varejo, isto é individualmente, como aqui, a seu pedido, pois prefiro trabalhar no atacado, criticando tendências e não personalidades. Mas tive uma recaída, na boa vontade de responder a você. Obrigada por instigar-me. Assim criei mais este texto.