Elogio da Loucura do Poema
Luciana Carrero
Eu não estou aqui para agradar alguém, nem para agradar ninguém. Isto vale para quando escrevo nas minhas rabiscolândias ou quando critico as rabisquelas dos outros. Quando me mandam um poema ou ele entra furtiva ou ostensivamente na frente do meu olhar, já o observo com um pé atrás.
Quando de um poema não consigo nem construir outro em minha mente, é porque foi um poematóide, ruim para me satisfazer. Mas incomodou-me. E isto me deixa com cara de múmia instigada num sarcófago. Me tira toda a inspiração e até meu afã de criticar. E olhem que em matéria de crítica sou um animal crítico mesmo. Quando critico de modo negativo, o coitado do criticado pediria a minha pena de morte. Até eu mesma a pediria, porque critico até a minha própria crítica. Fico insolente e espumante. Escrevo a minha cretinice crítica para os cretinóides poemas, mas não divulgo nem mesmo para o autor.
Quando não publico meu pronunciamento, é porque meu pronunciamento é uma bomba atômica que não vou deflagrar. Mas também pode ser que não me pronuncio porque não estou aqui para elogiar os poemas excelentes que invejo. Então, perguntarão, quando sai a público sua crítica? E respondo. Nunca. Só critico no atacado, como nesta teoria, e não no varejo, ou ainda para o meu consumo e aprendizado próprio. Que não sou burra de carga para ensinar os néscio ou engrandecer os que já são grandes. Se fizesse isso ficaria esmagada no meio dos dois. Dando asas a ambos os citados, eles iriam cada vez mais para o Pódio e eu ganharia o que?
Quando o poema consegue interagir de cara comigo, digo que é poemeto ruim, que não deixou margem para mim. Que foi feito para mau entendedor, muito explicado.
Quando me dá trabalho de pensar, digo que é ruim, porque me traz preguiça.
Quando um poema me parece excelente é porque é poemático, possui poematismo, não interessando se interage ou não comigo, se me dá preguiça, se me dá trabalho, se entendo ou não, se os outros entendem, etc.
Quando o poema é excelente não interessa se entendi ou deixei de entender. O poema, sendo poemático, não precisa de mais nada. E que se danem os que querem tudo entendido ou tudo facilitado ou tudo explicado, ou tudo complicado.
Nem me interessa o texto do poema excelente, dada a excelência da sua estampa. Aí está o segredo. Sou louca mesmo, e de carteirinha, caso contrário não escreveria nem leria estas coisas estranhas que chamam de poemas. Poesia é coisa marginal. E não venham os colegas a ficar melindrados. Se isto acontecer é porque não são loucos nem marginais o suficiente para serem poetas.
Quando as pessoas normais querem se embebedar, sair do sério, apelam para a poesia. E cantam: “eu vou beber, beber até cair”.
O referido é verdade e dou fé. Só abro mão deste meu texto se for para beneficiar outro pior, isto é: salvo pior juízo.