Conto nublar #087: TÚNEIS MUSICAIS

TÚNEIS MUSICAIS

Conto nublar #087

Hoje, pela manhã, não me pude furtar de apreciar lindas nuvens que flutuavam ao sabor dos ventos. Assemelhavam-se a vários tipos de animais a brincar entre si como se fossem pequenas crias rolando pelo chão. Opa! Pelo céu, foi o que pensei.

A brisa que no momento passa, roça suavemente meu rosto. De passagem tangente aos meus ouvidos, sugerem uma agradável melodia. Elevo-me pouco a pouco até me encontrar lá no topo, entre as nuvens. É lá que encontro Maria de Jesus e meu primo Sósten Nido, um apaixonado por música assim como a Maria e eu. E era exatamente sobre isso que falavam quando deles me aproximei.

Um pouco mais afastada, Ethiel e Deyse brincavam de moldar flores de chumaço de nuvens. Suas preferidas, crisântemo e margarida. Ao verem que nós três conduzíamos um empolgado papo sobre arranjos e harmonia, elas se interessam pelo assunto e a nós se juntam. Aproveito a ocasião e lhes apresento o Primo Nido. Deyse pergunta a este, como se faz para se improvisar uma segunda ou terceira voz enquanto cantamos.

_ Lembra-se de como funciona um GPS? _ Pergunta-lhe Nido.

_ Sim, claro!

_ Pois é semelhante ao seu desempenho. Por exemplo. Quando você vai a algum lugar onde nunca esteve antes, você diz ao GPS o endereço destino. Imediatamente o instrumento traça um roteiro por onde deve trafegar. Claro que você não é obrigada a seguir o traçado fielmente, mas este lhe dá uma direção. Durante o percurso, o GPS avisa a proximidade de semáforos, radares, limites de velocidade etc. Como se diz no popular, “é uma mão na roda”!

_ Sim, mas o que tem isso a ver com a música? _ pergunta Ethiel.

_ Calma, Ethiel! Deixa o moço explicar! _ intervém Maria.

_ Então! A música tem variáveis que precisamos entender, para compreendermos o improviso e formação das vozes. A harmonia começa com o entendimento dos acordes. Geralmente um acorde é formado por três ou quatro notas musicais. Às vezes tem mais, porém no geral é assim. Por exemplo: o Dó maior é formado de “Dó-mi-sol” ou “C-E-G” e duplicamos o dó em uma oitava acima - “C-E-G-C”. O segundo acorde de Dó maior, "C”, em notação americana, é “G7”, ou seja Sol com sétima menor. Sua formatação é “G-B-D-F”.

_ E daí? _ Pergunta a Deyse.

_ Daí, nascem túneis imaginários de “C–G”, “E-B”, “G-E” e “C-F”. Não se cruzam os túneis entre si. Outros túneis podem se formar entre as notas do acorde de C para o acorde de de G7. Só não pode jamais cruzar um túnel com o outro. Quando tocamos uma harmonia, percebemos que nascem novas possibilidades de se iniciar uma melodia. Minha sugestão é que percam o medo, ousem e comecem a surfar nessa melodia que vai surgindo em sua mente. Se isso acontecer, você estará criando uma nova música. Estão entendendo?

_ Parece meio complicado, mas estou, como diria, começando a enxergar uma tênue luz no final do túnel. _ Comenta Deyse.

_ Isso! Agora, com a melodia já definida, comecemos a descobrir o túnel superior e inferior do túnel da melodia. Siga a intuição e você terá, diria, pleno êxito. No começo parece difícil, mas quanto mais vocês treinarem, mais facilidade encontrarão de criar arranjos vocais ao descobrirem os túneis ou melodias de primeira, segunda, terceira e quarta voz.

_ É verdade, Sósten! Não é à toa que o seu nome lembra notas em sustenido (risos). Não tinha ainda me tocado a ver dessa forma os arranjos vocais, mas agora dá grande sentido o que acaba de nos compartilhar. Eita que me veio agora uma boa ideia. Topam?

_ Primeiro, Maria, me diga sua ideia e depois nós topamos. _ Falei, embora desconfiando do que seria.

_ Sim, Od! É quase isso. Vou tocando no acordeon sua música mais recente, SAUDADE DE MISSÃO NOVA. Eu canto a melodia, Deyse e Ethiel fazem o contralto, que é a voz ligeiramente abaixo do soprano, que farei. Od, você faz o baixo, será uma terça acima de minha voz, mas a uma oitava abaixo. E você, Nido, fará o tenor que é uma terça abaixo do contralto. Mas cuidado para não cruzar os túneis. Melhor dizendo, a voz ou naipe. Combinado?

_ Sim, Maria! E se errarmos?

_ Sem problema, Ethiel! Eu dou uma força a cada um de vocês. Qualquer deslize, oriento a forma correta. É só confiar em mim.

Senti-me realizado ao ouvir a performance de nosso quinteto improvisado entoando meu xaxado SAUDADE DE MISSÃO NOVA. Mais ainda, sendo da forma que foi. Uma torrente chuva cai sobre Pindóbia. De repente, estamos de volta de onde sobrenaturalmente saímos.

Grato a Maria, Sósten Nido, Ethiel e Deyse. Sem vocês nossa obra não seria de êxito coroada.

Valeu!

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 07/04/2014
Reeditado em 07/04/2014
Código do texto: T4760375
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