O Mosquito

14:28.

Dois mosquitos transando no meu armário escuro,

em meio a bagunça das minhas roupas.

Sinto-me quase mal por interromper.

Acerto o casal em pleno ar.

Comemoro o feito de destreza e volto para minha rotina.

Menos uma para sugar meu sangue. Afinal, só as fêmeas têm este hábito alimentar. O que no fim me parece uma apropriadíssima coincidência.

Os machos só servem para reproduzir. Depois disso morrem.

Há muitas mulheres no mundo esperando apenas um macho para acasalar

e alguém para sugar o sangue.

A maior parte dos machos só pensam em sexo.

No fim esses tipos se merecem.

A minoria dos dois sexos procura algo significativo nessa existência.

Algo além das urgências físicas.

Eu me vejo sempre perdido entre crises existenciais e necessidades fisiológicas.

Comer, beber, transar e principalmente dormir. Frequentemente perco a hora ou troco todas essas atividades, cismando sobre alguma questão universal ou totalmente pessoal.

Vivo cheio de dúvidas, de perguntas... Certezas não fazem meu tipo.

Tenho a necessidade urgente e viva de por tudo isso em papel. Como se o ato de escrever de algum modo fosse uma forma de decidir e me focar em alguma coisa.

Tudo parece mais claro depois de uma noite escrevendo freneticamente.

Eu não seria o mesmo se não soubesse escrever.

Paro e penso, então, como seria minha vida se eu fosse um mosquito,

como o que eu acabei de matar, e minha vida girasse em torno de encontrar uma fêmea,

cortejá-la em pleno ar e em seguida morrer.

Agora sim, realmente me sinto mal pelo coitado.

Destruído no auge de sua existência por um humano egoísta demais para dar o seu sangue

por uma criatura de outra espécie.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 07/04/2014
Reeditado em 22/03/2016
Código do texto: T4759908
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