Trixidilho #060: CLAMOR PELAS RUAS - INVERSÃO DE VALORES
CLAMOR PELAS RUAS - INVERSÃO DE VALORES
Trixidilho #060
Olha, pra isso, ó Deus Pai!
Como há injustiça no mundo!
Eis-me, sem mamãe e papai...
Por teto, lá em cima, o céu,
passeio público por uma cama,
papelão me cobre ao léu.
Só como do que me dão,
porque, se não como, eu morro.
Pobre tem honra, perdão!
Na solidão, no perigo,
tenho Dudu, meu cachorro,
companheiro, grande amigo.
Cuido dele e ele, de mim,
sou tal qual seu carrapato.
Carne e unha. É bem assim.
Desde ontem que não como,
que não paro de chorar.
Falo sério e não lhe embromo.
Levaram meu companheiro,
Dudu, querido cãozinho,
meu guarda-costas rafeiro.
E agora, quem de mim cuida?
Só quiseram meu amiguinho,
triste sina me descuida.
E, quando aqueles meninos
tomaram Dudu em seus braços...
Que atrevidos! Ah, traquinos!
Corri pra perto, ao relento.
Sobraram-me embaraços,
_ “Sai pra lá! Xô, fedorento!
Mas que tristeza medonha,
só meu mascote quiseram!
E a mim, nada! Que vergonha!
_ Esse é meu cão! Não o levem
Sem mim! Mas nada fizeram.
Nenhum "Grato!" Isso me devem.
_ Sai pra lá, Seo Mendiguinho,
destes cá, fica distante,
Cai fora, marginalzinho!
Fiquei irado da vida,
Você viu? Eu, um meliante?!!!
Quem rouba quem? Quem duvida?
Mas que inversão de valores,
pois fiquei qual cão sem dono,
sem pão, sem chão, sem amores...
Só Tu, Deus, me valerás
neste viver em abandono.
Valor por mim Tu terás.
Aqui fica a advertência!
Cuidem bem dos animais,
É bom deles ter clemência.
Crianças famintas, nuas
precisam de nós muito mais.
Andam aos lotes pelas ruas.
Olhem pra nós, por piedade!
Não deixem que o mal nos acolha!
Somos gente de verdade!
Das pesquisas, postos fora...
Vem, antes que o crime nos colha
e adota um de nós agora!