Congregação licenciosa
Esperávamos apenas que não fossemos alvos, onde lançavam-se os dardos.
Que nossos olhos não sangrassem diante a penumbra, que no lugar de pólvora, nossos corpos chamuscados em chamas.
Esperávamos que quando chegássemos os semblantes não fossem as mesmas carrancas de sorrisos tortos, dentes amarelados e perdêssemos em meio a abraços sem rancor.
Pulamos a cerca,
vaiamos as bestas,
fomos vorazes,
duvidamos do que fomos capazes.
Esperávamos não ser tão limitados, não ter nossos ossos almejados, nossas almas condenadas, nossas caras mal-lavadas.
Vagamos aos montes,
perambulamos as noites,
saqueamos comércios,
ameaçamos falar a verdade,
partimos de várias cidades.
Pensando bem, não foi tão em vão.
Ríamos da hipocrisia alheia, batemos cabeça, nos alimentamos da nossa própria carne, aventuramo-nos pregando barbáries.
Esperamos o tempo necessário, pra calar os poderosos, alimentar os invejosos, com seus olhares odiosos, mostrando as vistas mais lindas aos cegos, o cantos dos anjos aos surdos, elucidamos os sujos de olhar bandido,
demos-lhe as costas, sem olhar pra trás, de coração limpo.
Esperávamos ser autossuficientes pra darmos nossa caminhada a pé.
Um pra cada lado, norte, sul, desnorte.
Diante do sereno, penetramos no silêncio e nos rebelamos.
Esvaímos em sangue, celebramos o juízo final, norte, sul.
Cada qual, de cara se nota que não foi de todo mal.