Congregação licenciosa

Esperávamos apenas que não fossemos alvos, onde lançavam-se os dardos.

Que nossos olhos não sangrassem diante a penumbra, que no lugar de pólvora, nossos corpos chamuscados em chamas.

Esperávamos que quando chegássemos os semblantes não fossem as mesmas carrancas de sorrisos tortos, dentes amarelados e perdêssemos em meio a abraços sem rancor.

Pulamos a cerca,

vaiamos as bestas,

fomos vorazes,

duvidamos do que fomos capazes.

Esperávamos não ser tão limitados, não ter nossos ossos almejados, nossas almas condenadas, nossas caras mal-lavadas.

Vagamos aos montes,

perambulamos as noites,

saqueamos comércios,

ameaçamos falar a verdade,

partimos de várias cidades.

Pensando bem, não foi tão em vão.

Ríamos da hipocrisia alheia, batemos cabeça, nos alimentamos da nossa própria carne, aventuramo-nos pregando barbáries.

Esperamos o tempo necessário, pra calar os poderosos, alimentar os invejosos, com seus olhares odiosos, mostrando as vistas mais lindas aos cegos, o cantos dos anjos aos surdos, elucidamos os sujos de olhar bandido,

demos-lhe as costas, sem olhar pra trás, de coração limpo.

Esperávamos ser autossuficientes pra darmos nossa caminhada a pé.

Um pra cada lado, norte, sul, desnorte.

Diante do sereno, penetramos no silêncio e nos rebelamos.

Esvaímos em sangue, celebramos o juízo final, norte, sul.

Cada qual, de cara se nota que não foi de todo mal.

Eduardo De Caneda
Enviado por Eduardo De Caneda em 27/02/2014
Código do texto: T4708122
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