Epopeia a um Cínico
Cínico sou de mim,
De meus pérfidos passos...
Giro o orbe e o fim de meu regaço,
Abraçando vera luz:
Que me enlaço.
Beijei o doce veneno da existência,
Vi a cara da vergonha,
Execrei-a...
Aplaquei de mim a indulgência,
Exaltei o escárnio de minha ironia:
A garimpar o ouro da prata...
Cuja essência, conduz maior luz
Que o ouro dos mundos;
Que cega e produz a escória
Do animal imundo.
Minha visão um mormaço
Da peçonhenta ufania!
Minha boca o epitáfio
Da canção fúnebre
De um planeta engodado
De crassa infâmia...
Vitupério hereditário;
Artérias de lodo moral;
Sofismas de almas farisaicas
Em desertos emocionais;
Vem tu, acerca-te de nós!
"Sou Diógenes e
O tempo é o espelho da eternidade...
Busco um homem honesto,
Que viva o insano da contramão do cosmos,
Que conheça o essencial
E que despreze o vil...
Sou a cara da realidade.
Filósofo não sou de mim,
Nem das ruas das cidades.
O filósofo machuca os sentimentos
E não atinge a superficialidade...
Prazer, incontinência,
Construa um ninho para mim!
Morada eu quero em minha voz incontida
De palavras de punhais letais
No coração da sociedade mentirosa.
O insulto, ofende a quem o faz
E não a quem é ofendido!
Eu não te insulto, ó politeia!
Em mim tu jazes...
Aparta-te do meu sol,
Não me tires o que não me podes dar!
Sou Diógenes cidadão do mundo,
Este é o meu lugar...".