TRANSEUNTES
Não somos, estamos aqui
Latifundiários da maldade
Segregados do amor
Incompreensíveis da verdade
Mercenários do coração
Amasiados com a falsidade
Assassinos execráveis
De cordeiros degredados
Fazendeiros de ilusão
Ao sol da mentirosa caridade
Abraçados com a impureza
Andando com pernas vis
Aos beijos com a vaidade
Ai de nós se o tempo parasse
E os monturos se enfileirassem
Do opróbrio da humanidade
E dos abutres sobejassem
A ironia da bondade
Estaríamos como sombras
Presos na liberdade
Dos arquétipos concupiscentes
Devotos de suas vontades
Os intestinos da morte
Diluiriam os nossos sonhos
Morreriam nossas verdades
No bílis do seu estômago
Quão felizes das poesias
Se na paz, a morte jazesse
Se estrelas fossem lençóis
Que ornassem mil fantasias
Se no sono da noite
Prendessem o algoz
Que o mundo cria
Se o amigo tempo
Guardasse em redoma
O amor em diacronia
Se em sepulcro
baixassem deveras
O ódio e a dor em sincronia