Sem nada.
Lençóis negros
Meia noite.
Nenhuma câmera para retratar aquele último suspiro.
Nenhum escrivão para registrar as últimas palavras
daquela mulher.
Cabelos escorrem ao pé da cama,
despenteados.
Cigarros espalhados por todo o quarto.
Uma taça de gim, marcada de batom,
vermelho vulgar.
Morreu,
Sem que ninguém lhe ouvisse
chamar por Deus,
naquele último momento,
em que todo ateu passa a ser crente.
Morreu,
Não tão bela, quanto fora
antes do poço e antes da queda
da sarjeta
e do escarro.
Sem dinheiro
sem cartas no correio
sem diploma.
esquecida, muda.
Exausta da vida.
Sem som de violino
Sem extrema unção
sem sangue nas veias.
sem dor.
sem nada.