desespero para júlia
júlia que nunca venha ao caso
me questionar sobre esse conjunto de palavras códigos letras chaves vozes portas
porque sei que vou ficar
todo vermelho
amarelo
anis
marrom
violeta
musgo
bege
lilás cinza bordô laranja carmim branco magenta
e nada poderá ser feito
pra impedir esse ímpeto de te escrever e enviar talvez por e-mail ou te entregar num dia qualquer
entre um sorriso e outro
entre tapas foras e depois manter distância e fingir que
a existência da criatura mais exótica e bela e lânguida e piedosa e morena e amável
me passa despercebido
quando passa pela frente
quando solta um sorriso[e durante isso formam-se pequenas dobras buracos em sua pele
quase perto da bochecha e quase perto da boca]
e joga o cabelo cheiroso encaracoladamente discreto
e me abraça com desprezo terno
ah júlia por Deus que se eu
subvertesse os fatores sócio-político-econômico-filosófico-sentimentais-relacionais
o sol seria mais forte
a jabuticaba mais doce [e inclusive mais fácil de ser achada por alguém como eu que mora em
em meio a tanto concreto]
o cão mais dócil
a faca mais cortante
o som mais áspero
o pão mais
o chão mais
o vão mais
mais
mais
tudo cortante
é mais
tão áspero
e dá até vontade de compor canções sonetos trovas [ainda que eu não
saiba
exatamente o que seja isso]
e chover todos os dias até todos se cansarem de tanta água e tristeza e engarrafamento e desejarem a qualquer custo um dia claro
e fazer sol por trezentos dias seguidos até todos se cansarem de tanta felicidade e caras mortas pela claridade e calor
e voltarem a implorar por um dia ameno de chuva e vento fresco e falta de luz e agasalho
e eu escrevendo pra ti
oh júlia
nem sei mais porque escrevo
talvez pelo clima melancólico de festa nostalgia e pisca piscas pisca piscas pisca piscas pisca piscas pisca piscas pisca piscas
constantes invariáveis
e que apresentam as cores que eu ficaria
se você lesse júlia esse emaranhado sentimental e
dissesse sim me beijasse namorasse casasse amasse transasse matasse
com um tiro no olho direito e outro no coração
e dançasse sobre o meu corpo nu
alegre
e
descalço.