CONCEITUALIZANDO A POESIA
Luciana Carrero
O falar e o escrever não nasceram juntos. Falar, na essência humana, não é nem verbalizar (que verbalizar já denota submeter-se*) é, sim, expressar animicamente os sentidos. *O escrever dita regras de verbalização e, por isso, é construção, organização deste caos anímico. Para se expressar no sentido de comunicação existencial primeva, não se precisava escrever e nem mesmo conhecer as letras. Uma criança começa assimilando sons, palavras que para si não são palavras e sim comunicação necessária à sobrevivência. Depois, no aprendizado formal, vem a ligação com as letras, que formam palavras. Um ser humano, na sociedade, pode viver muito bem sem conhecer tais símbolos e só assimilando os sons e formas de usá-los, grosso modo. Automáticamente vai construir frases que alguém alfabetizado pode registrar. O resultado será o mesmo que é para quem escreve de acordo com as regras que decodificam o caos do falar de quem aprendeu na osmose, i.é se esfregando nas conversas.
Lá na expressão anímica nasce a poesia natural, nasce criança como tudo que nasce no planeta. E, mesmo sem saber escrever, se desenvolve. E intui rimas, cadências, ritmo e todas as, digamos assim, ferramentas para o poema. Já, escrevê-lo – o poema – é domá-lo e tirá-lo como se tira um alazão dos campos. Assim perde a liberdade e passa a fazer parte de um contexto cultural que transcende à sua naturalidade para enfeixá-lo no academicismo dos que controlam conceitos pré-determinados dentro da arte. Mas, lá da profundeza da mente de um analfabeto, pode vir o principal, que não são as ferramentas citadas acima. Então são o que? – São a essência, (alma) o pulsar do universo e a descoberta de sensações extraordinárias que não basta escrever para sustentá-las. É especie de mediunidade criadora, que vai lá no âmago das sementes cósmicas e refaz seu DNA, trazendo um broto novo. Este é o poema, alma inerente a tudo que há no universo, mágica essência latente, para o milagre do verso (o broto novo), salvo melhor juizo.