Parabólica #001: FALAR DEMAIS DÁ EM CINZAS
FALAR DEMAIS DÁ EM CINZAS
Parabólica #001
Passando por uma loja de produtos regionais, paro e vejo um par de botas de couro cru muito bem fornidas.
Peço para ver se há o meu número. Perfeito! Calça-me bem. Apenas um pequeno aperto no artelho mínimo direito, o que é perfeitamente normal. Com alguns dias de uso o amaciamento era na certa. Feliz fiquei porque além de ter gostado do produto, estava valorizando o artesanato local.
_ Cá! Cá! Cá! Cá! Cá! Cá! Mas que ridículo! Um metido da Cidade Grande dando uma de caipira! Que imitação mais barata!
Olhei em todas as direções. Continuei andando, um pouco caxingando devido uma minúscula bolha que se formava no dedinho esquerdo.
_ Que houve, gaiato! Tás pedindo a rego! Que frouxo!
Mas quem está dizendo essas coisas ridículas? Olho para todos os lados e nada. Não estou ficando louco. Então percebo que são minhas botas de couro cru que estão zoando de mim.
_ Qual é? Por que isso agora?
_ Então não vê? Se olha no espelho? Não é digno de me calçar. É apenas um arremedo caipira, mesmo que a música nos tenha popularizado, nada a ver!
Nisso passo por um grupo de pessoas que se aquentam a uma crepitante fogueira, fugindo do frio daquele congelante inverno. Não penso duas vezes. Saco das incômodas botas e as lanço bem no meio daquele fogo que faminto se lança a devorá-las. _ “Crept! Crept! Crept!” _ as labaredas ávidas a lambê-las.
_ Ei, Cara! Faça isso não! Você até que é bem legal! Nem tem chul...! _ sucumbem as botas em churrascantes cinzas...
Moral da história: “Nem sempre faz bem, fazer o bem que se quer.”
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Nem todo o bem que a gente queira fazer pode ser, de fato, um bem para quem o irá receber.