Conto Nublar #081: CORAL ORNITOSSÔNICO DE PONTE ALTA
CORAL ORNITOSSÔNICO DE PONTE ALTA
Conto Nublar #081
Quem me conhece sabe de minha paixão por música desde minha mais tenra idade.
É verdade! Consigo tirar música até do mais profundo silêncio, quer dormindo, quer acordado. Coisa de louco? Talvez, mas prefiro dizer “Coisa de músico”, mesmo. Também alguém já brincou comigo ao dizer que eu dançaria até discurso dado o meu gosto por música e dança. Guardado certo exagero não estaria de todo errado. Quando não estou fazendo música certamente estou pensando em música, em alguma coisa a ela relacionada. Diferentemente de certos sítios políticos, aqui nunca termina em pizza, certamente ou termina em música ou poesia.
Hoje o sol quase não marcou presença aqui em Ponte Alta. Passei o dia agasalhado curtindo a brisa que soprava agradavelmente a 20º. Após o almoço, minha esposa me chamou para ver a cerração que se avizinhava já a um quarteirão de nós. Não longe daqui, ouvia-se o canto dos passarinhos que pareciam não se preocupar com a baixa nuvem que se aproximava. Tudo indicava que não lhes atingiria ali onde estavam. Quem é músico, quando ouve qualquer tema musical, a primeira coisa que instintivamente faz é identificar o tema, o andamento, a marcação etc. Percebi o perfeito sincronismo entre estes quatro espécimens que cantavam como que se fossem regidos pela batuta de um Maestro. Creio que certamente é o mesmo Maestro que rege todo o Universo quem os regia.
Assim a louvar o seu Criador estão a cantar:
João-de-Barro M: Ti ti ti 'Tchi! Ti ti ti 'Tchi! ...
João-de-Barro F: 'Tchi! 'Tchi!...
Bem-te-vi : Bem te 'vi! Bem te 'vi! ...
Venvém : Vim vim! Vim vim! ...
Maravilho-me pois os quatro estão a cantar em movimento quaternário, em anacruse, ou seja, começando a cantar, não no tempo forte do compasso (o 1º tempo), mas o João-de-Barro entra no 2º tempo, a Joana, faz a marcação apenas nos tempos fortes. Bem-te-vi entra no 3º tempo pontuando este, enquanto que o Vem-vem faz percussão nos 3º e 4º tempos numa sincronia tal que fico de queixo caído com tamanha perfeição. Em que escola teriam estudado notação e teoria musical para que dominassem a técnica de tal forma? Nenhuma, concluo, mas creio que os professores primitivos os estudaram com eles e muito aprenderam. O grande compositor e músico austríaco Johann Strauss enquanto passeava de carruagem pelos Bosques de Viena ouvira o trinado de um passarinho. Imediatamente pegou seu flautim e o imitou naquele mesmo trinado. Isto se repetiu por várias vezes e quando terminou seu passeio também acabara de compor sua famosa valsa Contos dos Bosques de Viena.
Começou a pingar e eu, superfeliz, já me preparava para criar coragem e tomar aquele banho de chuva como nos tempos de criança, quando Vento Sudeste sorri pra mim e diz: _ “Lamento te frustrar, Od, mas esta chuva já tem dono e destino certos: Oeste de Goiás. Fica para a próxima!”