Conto nublar #067:
ONÍRICA VIAGEM À INFÂNCIA
(TAXÍDIS OTO CHRONO TÉS PAIDZIKÉS ELIKIÁS)
(Ταξίδι στο χρόνο της παιδικής ηλικίας)
Conto nublar #067: ONÍRICA VIAGEM À INFÂNCIA
(TAXÍDIS OTO CHRONO TÉS PAIDZIKÉS ELIKIÁS)
(Ταξίδι στο χρόνο της παιδικής ηλικίας)
Uma efusão nostálgica arde em meu peito. Saudade surda corusca irrequieta num tom melancólico, atraindo sobre a mente uma nuvenzinha cinzenta.
Fecho os olhos e deixo-me levar suavemente de carona nessa nuvem tentando ver aonde vai me levar. Entrando em alfa, vou mergulhando cada vez mais fundo, passando pra beta, gama e por fim, delta ou REM. Delta é o limite onírico, o mais importante de todos. Aqui todos os sonhos se realizam, minhas baterias se recarregam enquanto a mente descarrega a sobrecarga do dia. Sinto no ar mais uma sensação pra lá de fantástica. Se dormindo ou acordado, não sei, mas procuro viver intensamente cada detalhe onírico como sendo raro e único.
“Verão de 1954. Vila de Missão Nova, o Outro Lado, como se costuma chamar o lugar onde vim parar. O dia nasceu sorrindo. O sol resolve não dar as caras, mas mostra sua presença por trás de não densas nuvens que recobrem o céu de horizonte a horizonte. Uma brisa suave roça as faces. O fresco perfume das rosas no jardim preenche o ambiente como a dizer bom-dia a quem que por ali passe. Od Ben Od brinca absorto na areia umedecida pela chuva da madrugada. Preme o pezinho com suave força sobre a areia úmida e grita eufórico, a plenos pulmões: _ “Tru-bão! Tru-bão!”_ Preme novamente e... _ “Tru-bão! Tru-bão!”_ O que será que esse menino tão entretidamente está a fazer?
Aproximo-me do limiar da calçada a observar o que faz e abro um discreto riso, pois o que vejo é exatamente o que costumava fazer naquela idade. Poxa! Lágrimas molham o meu rosto ao perceber que tudo o que penso ele o faz como se meu pensamento seja uma espécie de controle remoto a guiar cada movimento ou ação daquela esperta criança. Até o sesto de fechar bem o olho direito e coçar a ponta do nariz com as costas da mão direita, ele faz como que num ato síncrono comigo, ao tempo em que fita o além e só Deus sabe aonde paira aquela inocente cabecinha. Quanto mais o observo, mais pranto silente banha-me o rosto. Ia-me esquecendo! Quando diz _ “Tru-bão! Tru-bão!”_ imita o som do trovão, ao pressionar o pezinho na areia molhada, dando a impressão de que a seca repentinamente, lembrando um relâmpago.
_ Od Ben Od! _ Chama-lhe sua mãe.
_ Ken, Imah (Sim, mamãe)! _ responde.
_ Cuidado pra não pegar frieira ou bicho-de-pé com essa brincadeira!.
_ Tá, Imah! 'cha comigo!
Não é possível! É como se eu assistisse ou fosse protagonista de um filme que já tivesse visto:
Na marcenaria, Abbah Od canta o clássico de Luiz Vieira 'Menino de Braçanã' intercalando o canto com belíssimos solos de improvisos em assobio. Ah! Pra quê? A cachoeira lacrimal jorra mais forte. Mesmo assim, delicio-me em assistir a tudo aquilo. Revivo cada momento que vivera até meus cinco anos quando finalmente fugira de casa para nunca mais voltar. Ah, se eu soubesse a importância de crescer junto aos pais até a maturidade! Jamais teria praticado tal desatino. Talvez seja por essa razão que me desmancho em pranto incontido.
Num piscar de olhos, desponta o dia seguinte e vejo Immah (sua/minha mãe) em prantos sentidos e incontidos com um bebezinho inerte em seus braços a gritar:
_ Oh, meu Deus, me acuda! Minha filha está morrendo...! Lisiète! Acorda, filha! Abbah Od! Corre aqui! Oh, Deus! Ela não respira... Acho que ela partiu! Ai, meu Deus! Meu Deus, me acuda!
Como um formigueiro ou um marimbondo assanhado, repentinamente a casa fica repleta de gente de toda vila. Vejo Abbah Od triste, capiongo, dirigir-se à sua marcenaria, pegar umas tábuas e, conforme prévias medidas confecciona a peça, apesar de fácil, mas a que mais teve dificuldade de fazê-la, dada a dor que lhe sangra o peito _ o caixão de anjo, o seu anjinho que tão prematuramente fora morar na Mansão Celeste. Depois coloca sua filhinha vestida de cetim branco (parece dormir), naquela caixa esquisita. Cantam umas músicas esquisitas que não entendo bem. Ouço um trecho assim: “... Os anjos irão cantando...”, e por aí vai.
Od Ben Od, não consegue processar aquilo que acontece ao seu entorno e, assustado, corre a se esconder atrás da porta. De lá, vê sua Imah enxugar o pranto com a ponta do cueiro, tendo em seus braços, seu irmão mais moço, Neched e grávida de seu mano Nato. Guardo ainda hoje viva na memória essa indelével cena.
Isso me faz lembrar também de muitas outras músicas que meu pai cantava enquanto criava seus belos e fornidos móveis: Bob Nelson – Companheiro de Caçada, Boi Barnabé, e muitos outros.
Ficar ali, apesar do jorro de lágrimas, faz-me grande bem e passaria o resto de minha vida só vendo e revendo a vida desse garotinho que mais parece a minha. Vento Oeste rasga no céu uma fresta e acena pra mim, qual convite a voar de volta a Brasília. Por que não? Claro! Também ninguém ali daria por minha falta mesmo, pois era apenas uma divagação. E que divagação!
_ Vamos lá, Camarada! Fecha bem os olhos e deixa o resto comigo!
Fechei os olhos e encontrei-me finalmente de volta, em meio ao sono REM, no momento do “check list” pró vigília.
Que bom poder dormir e sonhar!
Glossário:
Abbah – hebraísmo – papai;
Immah – mamãe; hebraísmo
Neched – hebraísmo – neto;
Check list – anglicismo - lista de verificação;
Vigília – período restante em que passamos acordado durante
o dia.
(TAXÍDIS OTO CHRONO TÉS PAIDZIKÉS ELIKIÁS)
(Ταξίδι στο χρόνο της παιδικής ηλικίας)
Uma efusão nostálgica arde em meu peito. Saudade surda corusca irrequieta num tom melancólico, atraindo sobre a mente uma nuvenzinha cinzenta.
Fecho os olhos e deixo-me levar suavemente de carona nessa nuvem tentando ver aonde vai me levar. Entrando em alfa, vou mergulhando cada vez mais fundo, passando pra beta, gama e por fim, delta ou REM. Delta é o limite onírico, o mais importante de todos. Aqui todos os sonhos se realizam, minhas baterias se recarregam enquanto a mente descarrega a sobrecarga do dia. Sinto no ar mais uma sensação pra lá de fantástica. Se dormindo ou acordado, não sei, mas procuro viver intensamente cada detalhe onírico como sendo raro e único.
“Verão de 1954. Vila de Missão Nova, o Outro Lado, como se costuma chamar o lugar onde vim parar. O dia nasceu sorrindo. O sol resolve não dar as caras, mas mostra sua presença por trás de não densas nuvens que recobrem o céu de horizonte a horizonte. Uma brisa suave roça as faces. O fresco perfume das rosas no jardim preenche o ambiente como a dizer bom-dia a quem que por ali passe. Od Ben Od brinca absorto na areia umedecida pela chuva da madrugada. Preme o pezinho com suave força sobre a areia úmida e grita eufórico, a plenos pulmões: _ “Tru-bão! Tru-bão!”_ Preme novamente e... _ “Tru-bão! Tru-bão!”_ O que será que esse menino tão entretidamente está a fazer?
Aproximo-me do limiar da calçada a observar o que faz e abro um discreto riso, pois o que vejo é exatamente o que costumava fazer naquela idade. Poxa! Lágrimas molham o meu rosto ao perceber que tudo o que penso ele o faz como se meu pensamento seja uma espécie de controle remoto a guiar cada movimento ou ação daquela esperta criança. Até o sesto de fechar bem o olho direito e coçar a ponta do nariz com as costas da mão direita, ele faz como que num ato síncrono comigo, ao tempo em que fita o além e só Deus sabe aonde paira aquela inocente cabecinha. Quanto mais o observo, mais pranto silente banha-me o rosto. Ia-me esquecendo! Quando diz _ “Tru-bão! Tru-bão!”_ imita o som do trovão, ao pressionar o pezinho na areia molhada, dando a impressão de que a seca repentinamente, lembrando um relâmpago.
_ Od Ben Od! _ Chama-lhe sua mãe.
_ Ken, Imah (Sim, mamãe)! _ responde.
_ Cuidado pra não pegar frieira ou bicho-de-pé com essa brincadeira!.
_ Tá, Imah! 'cha comigo!
Não é possível! É como se eu assistisse ou fosse protagonista de um filme que já tivesse visto:
Na marcenaria, Abbah Od canta o clássico de Luiz Vieira 'Menino de Braçanã' intercalando o canto com belíssimos solos de improvisos em assobio. Ah! Pra quê? A cachoeira lacrimal jorra mais forte. Mesmo assim, delicio-me em assistir a tudo aquilo. Revivo cada momento que vivera até meus cinco anos quando finalmente fugira de casa para nunca mais voltar. Ah, se eu soubesse a importância de crescer junto aos pais até a maturidade! Jamais teria praticado tal desatino. Talvez seja por essa razão que me desmancho em pranto incontido.
Num piscar de olhos, desponta o dia seguinte e vejo Immah (sua/minha mãe) em prantos sentidos e incontidos com um bebezinho inerte em seus braços a gritar:
_ Oh, meu Deus, me acuda! Minha filha está morrendo...! Lisiète! Acorda, filha! Abbah Od! Corre aqui! Oh, Deus! Ela não respira... Acho que ela partiu! Ai, meu Deus! Meu Deus, me acuda!
Como um formigueiro ou um marimbondo assanhado, repentinamente a casa fica repleta de gente de toda vila. Vejo Abbah Od triste, capiongo, dirigir-se à sua marcenaria, pegar umas tábuas e, conforme prévias medidas confecciona a peça, apesar de fácil, mas a que mais teve dificuldade de fazê-la, dada a dor que lhe sangra o peito _ o caixão de anjo, o seu anjinho que tão prematuramente fora morar na Mansão Celeste. Depois coloca sua filhinha vestida de cetim branco (parece dormir), naquela caixa esquisita. Cantam umas músicas esquisitas que não entendo bem. Ouço um trecho assim: “... Os anjos irão cantando...”, e por aí vai.
Od Ben Od, não consegue processar aquilo que acontece ao seu entorno e, assustado, corre a se esconder atrás da porta. De lá, vê sua Imah enxugar o pranto com a ponta do cueiro, tendo em seus braços, seu irmão mais moço, Neched e grávida de seu mano Nato. Guardo ainda hoje viva na memória essa indelével cena.
Isso me faz lembrar também de muitas outras músicas que meu pai cantava enquanto criava seus belos e fornidos móveis: Bob Nelson – Companheiro de Caçada, Boi Barnabé, e muitos outros.
Ficar ali, apesar do jorro de lágrimas, faz-me grande bem e passaria o resto de minha vida só vendo e revendo a vida desse garotinho que mais parece a minha. Vento Oeste rasga no céu uma fresta e acena pra mim, qual convite a voar de volta a Brasília. Por que não? Claro! Também ninguém ali daria por minha falta mesmo, pois era apenas uma divagação. E que divagação!
_ Vamos lá, Camarada! Fecha bem os olhos e deixa o resto comigo!
Fechei os olhos e encontrei-me finalmente de volta, em meio ao sono REM, no momento do “check list” pró vigília.
Que bom poder dormir e sonhar!
Glossário:
Abbah – hebraísmo – papai;
Immah – mamãe; hebraísmo
Neched – hebraísmo – neto;
Check list – anglicismo - lista de verificação;
Vigília – período restante em que passamos acordado durante
o dia.
Bob Nelson Boi Barnabé e outras... no Letras e núsica e Youtube http://letras.mus.br/bob-nelson/584874/
Estilo criado pelo Poeta Bosco Esmeraldo (Od L'Aremse). Para você compor neste estilo, saiba como neste link: COMPONDO UM CONTO NUBLAR, http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4228439.