Decatosectos Ecossonantes #035:
À ÚLTIMA FLOR DO LACIO
À ÚLTIMA FLOR DO LACIO
Pátria de meus ancestrais,
de língua, cadinho, aninho,
mais que rajos espectrais,
dos Montes, outeiro, Ribeiro,
dos Silva, dos fortes mistrais.
Albuquerque, Coelho, Duarte,
Ramos, famílias, filias,
Ferreira, Herrera, Nogueira,
Melo, Oliveira, dessarte.
E assim tal em Além-mar,
a língua, diferentemente,
quase sem se deformar
no Brasil, Sertão que é tão
mais próximo mesmo em cis-mar.
Flor do Lácio, inculta e bela,
bruta mina, língua vela.
LÍNGUA PORTUGUESA
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!