Conto Nublar #051:

VENTO CONTADOR DE HISTÓRIAS NUBLARES

(Uma obra puramente fictícia)

Após criteriosa análise dos céus de vários lugares, em diversos países, o céu de Brasília foi unanimemente escolhido para ser o tema do inédito concurso literário até aquele instante.

No Planalto, há fortes e velozes correntes de ar, proporcionando a arte do vento escultor que ocorre em bastante frequência por aqui. Sendo uma região muito quente e úmida, paradoxalmente esta mesma umidade é evaporada, provocando variações de pressões que por sua vez, provocam grande deslocamento de ar, justificando assim a grande massa de ar em deslocamento por esta região, energia limpa, pura e renovável, sem qualquer traço de poluição.

Ora são correntes frias oriundas da patagônia, rumando para o Planalto Central. Não raro essas frentes frias se chocam com correntes quentes vindas da Amazônia, do equador ou do Atlântico Nordeste. Desses choques ocorrem frequentes chuvas, inclusive, não raro chuvas de granizo. Com todo esse movimento, não é de se estranhar as mais belas nuvens em caleidoscópicos formatos, de infinitas possibilidades em desfile flutuante bem sobre nossas cabeças.

Muitas vezes estou a dirigir e percebo muitas e muitas poesias ou estórias que poderia contar ou simplesmente fotografar belas formas. Mas nem sempre se pode parar aqui em Brasília. Nem todas avenidas, BR's, ruas ou vicinais têm acostamento para que eu pare e registre aquele lance único. Lamento um pouco, mas sempre há outras e mais outras nuvens que compensarão aquelas momentâneas perdas. Num desses estalos neuróbicos engendrei aquele que poderia ser o mais original e mais bem sucedido concurso literário de todos os tempos. Assim que cheguei em casa olhe para o meu relógio que também é um termômetro bi escalar °F/°C e vi que o expediente administrativo ainda não havia terminado. Mais que depressa corri ao telefone e liguei para o representante da Cultura que me aconselhou a apresentar um projeto ao órgão competente em minha Cidade e fiz uma sinopse de minha ideia. Pronto o projeto, demos mãos à obra e formos em busca de patrocínio.

Saí dali com um projeto elaborado e já com uma comissão constituída para cuidar dos Detalhes acertados, parte logística para que o concurso fosse realizado sem qualquer entrave que o pudesse inviabilizá-lo pusemos projeto em ação. Fiquei no subgrupo que cuidaria da divulgação em todas as mídias, escrita, falada, televisada e cibernética. Eu e o Od Júnior ficamos encarregados de criar a logomarca e lançá-la em vídeo viral através dos suportes de vídeo disponíveis na Internet. Lançamo-las em Português, Francês, Espanhol e Inglês. A tradução ficou ao meu cargo e não me foi muito difícil. Mas para a tradução em Árabe, tive a brilhante ajuda de meu amigo Ibhrahim Boulech e no Hebraico, prontamente me ajudou o meu amigo de Ha Eretz, Joabe Daniel.

- “Mas que festival de bobagem esse, Sor! E eu vou lá perder tempo em olhar para nuvens ou coisa parecida! Tenho mais o que fazer! Isso é pra desocupados e lunáticos.” diziam alguns.

- “Bobos sei quem são, pois se matam por coisas menos importantes. Passaram pela vida mas nunca a viveram em sua plenitude”, comentavam outros.

Mesmo assim. A receptividade foi exageradamente além das expectativas. Recebemos pedidos de inscrições dos cinco continentes. Deu uma grande trabalheira, mas enfim, conseguimos organizar tudo com o máximo cuidado, buscando o inatingível índice zero de erro. “Que Deus me ajude!”, pedi para que esse exacerbado perfeccionismo não viesse me atormentar e que eu pudesse dar um impossível desconto à minha pessoa.

A data ficou acertada para as duas últimas semanas de Agosto, visto ser um mês de pouquíssimas chuvas. Cada dia, 20 concorrentes abririam os seus envelopes e dariam início à mais esperada temporada literária do Planeta. Ao final das duas semanas de conteste, totalizariam cerca de 280 concorrentes. Era cada um torcer para as forças elísias soprarem os mais criativos ventos, a fim de produzirem as mais belas nuvens jamais vistas por eles. O certame começaria todos os dias, a partir das 15h 00min para que pudéssemos usufruir de um sol menos causticante e pobre em raios ultravioletas e infravermelhos. O local escolhido foi o pátio da Torre de TV Digital, uma das últimas obras do saudoso arquiteto Oscar Niemeyer, a qual representa a Flor do Cerrado, novo ícone de Brasília.

Cada participante no início da prova teria, após o primeiro tiro de festim, quinze minutos para olhar e fitar bem cada nuvem nos 360° do Céu Brasiliense. Depois, um segundo tiro de festim daria o toque para começarem a escrever. Teriam até às 18h 30min para terminarem o seu conto. A ideia era muito simples: Cada participante deveria contar uma história, um conto baseado nas multiformes figuras formadas pelo movimento da nuvens e ir variando de acordo com a percepção pessoal e ao sabor do morfismo inerente às nuvens e aos ventos.

Hoje já são 17 de Agosto de 2013. A ansiedade quer tomar conta de mim, mas com muito sacrifício me contenho. É quase impossível aguentar chegar a tarde, para ver a realização de um projeto tão audacioso como este.

Vamos lá, galera? A entrada é gratuita, tudo patrocinado pela Secretaria do Turismo e Secretaria de Educação da Unidade Federal. Este, sem dúvida, será um acontecimento memorável que ninguém, que possa ir, deva perder por nada desse mundo!

ATENÇÃO!

Esta é uma obra puramente fictícia de que tive a concepção, enquanto dirigia para minha residência, num belo entardecer de Brasília. O céu é o mais belo do mundo e um espetáculo à parte.

Se algum grupo ou órgão governamental quiser aproveitar a ideia, tem minha permissão, mas simplesmente peço: Por favor, mantenha-me como autor da ideia!

 

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 20/01/2013
Reeditado em 10/04/2013
Código do texto: T4094535
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.